domingo, 24 de setembro de 2023

Decadência? Não! Experiências geram sabedoria e isso não tem preço.




Recentemente tive que fazer algo independente do meu desejo, praticamente fui obrigado a fazer o inesperado. Jamais teria planejado algo deste tipo. 


Outro dia destes um motorista de entrega de produtos frigoríficos, abalroou minha SUV que estava estacionada na rua. Tivemos a sorte (?) de praticamente presenciar tal ocorrido. O motorista reconheceu o erro e se prontificou e assumir os custos de tal acidente. 


Eu só não contava com o local onde o funileiro faria o conserto. O endereço me surpreendeu. Pensei duas vezes se iria ou não levar o meu carro lá. Pensei em assumir o conserto numa funilaria ao lado de casa. O valor é abaixo da franquia do seguro. 


Ensaiei por três semanas. Vou ou não vou? Acabei indo. A economia de evitar gastar um valor nos dias de hoje falou mais alto.

Confirmo minha ida ao tal funileiro, sigo rumo ao desconhecido. Preparo o GPS e sigo em frente. Dirijo sozinho. Até a metade do caminho, asfalto lindo, dois pedágios, vários radares, e vamos seguindo.


No quilômetro indicado subo o acesso para a segunda parte do caminho. Poucos metros de asfalto e adentro na estradinha de terra. Começa o meu pesadelo. Longe de ser uma estrada vicinal. Tráfego intenso. Caminhões de concretagem, caminhões de pedras, ônibus intermunicipais, carros, vans escolares rurais, e por aí vai. Seguem-se curvas, subidas e descidas, paradas provocadas por congestionamento, paradas de coletivos para acesso ou descida de passageiros. Após 50 minutos, adentro a cidade de Amador Bueno. Rumo ao endereço e pasmem, rua SJ do Rio Preto, 268. Nome da minha cidade natal. Pura ironia.


Chegando na funilaria, apesar de não sentir muita confiança deixo o veículo aos cuidados do responsável de apelido, Alemão.

É hora de voltar. Chamo um Uber. Não há disponibilidade. Decepção? Claro que não.

Retorno só por trem ou ônibus. Escolho o trem. CPTM ontem e Mobilidade hoje, trens velhos, tudo igual, só houve troca de mãos. Demora à parte. Vamos seguir o caminho de volta. Começando inicialmente pela estação Amador Bueno e rumo à Lapa. São 22 estações, uma baldeação. Previsão de chegada, de 1:40 a 2 horas. Ufa. Prepare-se, Jorge.


Passar por lugares que nunca havia visto, despertam a minha curiosidade. Fiquei na janela do vagão. Não sei por causa do horário ou por estar relativamente lotado, o trem segue vagarosamente. Melhor para mim. Olho tudo. Paisagens que refletem o nosso crescimento desordenado e caótico. Como o adensamento populacional sem controle das autoridades governamentais contribuem para prováveis catástrofes em caso de chuvas torrenciais, igual aconteceu em S. Sebastião recentemente. De estação em estação noto o contraste. Quando próximo das cidades a urbanização melhora. Nada que seja animador, mas perto dos olhos da fiscalização, a população respeita as normas.


Sentado naquele lugar, começo a me recordar de outros lugares que utilizei do trem como Atlanta, Buenos Aires, Calgary, Chicago, Londres, Los Angeles, Melbourne, Munich, N. York, Orlando, San Francisco, Santiago, Sidney, Sttutgart, Vancouver, Washington...quantas paisagens lindas, bucólicas, surpreendentes, realmente de tirar o fôlego. É inevitável a comparação. O que é que estou fazendo ali naquele vagão, sujo, com pessoas beirando a classe média para menos. Com seus celulares com auto-falante cujos sons irritam qualquer ouvido despreparado como o meu, por exemplo.

De 60 lugares, em sua maioria ocupados, apenas dois passageiros com head set e um outro jovem com aqueles fones de ouvido profissional. Máscaras para proteger contra gripes e Covid, nem pensar. Crianças de colo se irritando e fazendo os circunvizinhos de assento também se irritarem. Calor, paradas, gente entrando e saindo. Tudo contribuindo para um stress sem fim. 20 estações é um verdadeiro programa de tortura para um sujeito pequeno burguês acostumado com outras regalias da vida elitizada.


Passam-se os dias, final de semana. O intervalo de sete dias, acaba. Aguardo ansiosamente o telefonema do funileiro. Vai ligar ou não? Por quê eu deixei o carro lá sem nada escrito, comprovando o serviço. Ficará bom ou meia boca. Reclamarei pra quem? Julgamento e pré-julgamento. Cabeça em reboliço total. Para piorar, a esposa buzinando nos ouvidos, blá, blá…

De repente, desesperado feito um peixe fora d’água, recebo um Zap do alemão. - Pode vir buscar, patrão! Alívio geral. E mais 22 estações para a volta com destino a Amador Bueno. Pego o carro. Tudo certo! E vamos voltar para casa. Ufa. 

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