quinta-feira, 20 de setembro de 2018

É preciso dizer.

Hoje vou falar uma coisa bem íntima. Algo que trago comigo há tempos.
Quando jovem fui picado por um inseto que trazia uma força nas minha entranhas.
Essa picada me moveu para um caminho, cuja escolha não era de minha consciência, era do meu sonho juvenil.
Naturalmente somos contra tudo por natureza nessa tenra idade. Éramos contra a educação dos nossos pais, de nossos professores, dos políticos que governavam na época. Éramos contra a elite, contra e Igreja, enfim, como disse, éramos contra tudo. Contestávamos tudo. Era normal. E ser contra significava ser livre. E aquele inseto que eu disse no início, nos picou com sangue vermelho. Mas nada sabíamos. Éramos levados pela onda da Guerra Fria, digo isso, na época da geração 'baby boomer', nascida em plena década de 50.
Peter Brueghel (1568) - Os cegos

A idolatria nos fascinava. Ser comunista ou socialista nos fazia bem, dava status. Veio a ditadura dos milicos nos anos 60, uns diziam Revolução, outros Golpe, e eu estava do lado dos que falavam que era golpe.Tive na escola a famigerada matéria OSPB* que nos fazia ficar cada vez mais 'vermelhos' de raiva. Talvez uns dos vilões da escola ter dado uma guinada. 
Cresci ouvindo a tese "Ele rouba, mas faz". Meu falecido pai era o meu guru de esquerda sem saber que nele existia um sentimento moderador de centro. Mas ele atuava nos quadros do antigo PTB (Vargas) e o viés era de popular trabalhador, ou seja operário necessitado de tutela. Aqui destaco uma passagem na Bíblia, no Evangelho Segundo Mateus, que espelha o que penso dessas tutelas.
"Sabes que os fariseus ouvindo o que disseste, ficaram escandalizados? Mas ele respondeu: Toda a planta que meu Pai Celestial não plantou será arrancada pela raiz. Deixai-os, são cegos guias de cegos. Se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco." (Mateus, XV, 12:14.)
   
Quando veio a tal redemocratização, e lá fomos nós trabalhar para o MDB, que era antagônico ao governo, ou seja a oposição, quem apoiava os milicos, a ARENA, a situação.
Mas nos quadros desse movimento, que não dava para ser considerado partido, não existia uma única linha ideológica, portanto era mais um movimento, um caldeirão de ideias e não de ideais. Para ser uma ideia disso, trabalhei para o Orestes Quércia vencer o então senador por São Paulo, Carvalho Pinto, que havia sido governador.
Trabalhamos para políticos de expressão nacional como Franco Montoro, Ulisses Guimarães, Mário Covas, e outros que começavam a aparecer como Airton Soares, Alberto Goldman, não me recordo de outros. O que aconteceu? A oposição ganhou de lavada.

Depois o MDB virou PMDB, a ARENA virou PDS, tivemos a reação dos militares que antes nomeavam os governadores, passaram a indicar os senadores biônicos, e por fim as eleição indireta de 85, após as Diretas terem sido rechaçadas e o Tancredo ter sido eleito indiretamente e nunca governar, pois morreu antes da posse.
Sarney assumiu e fez a lambança por cinco anos e em seguida nas eleições gerais de 89, vencendo um político desconhecido, um verdadeiro aventureiro cujo nome era Collor de Melo.

Nessa época a desilusão política me atingia, desde as questões políticas, administrações equivocadas, transição das raposas, trens da alegria no Congresso e os seus seguidores tomando os assentos em Brasília e nas assembleias estaduais.
O desencanto tomou conta, que segui minha caminhada profissional, pai de família e cumpridor das minhas responsabilidades profissionais, me afastando de quaisquer atividades político-partidárias.

Assisti nestas últimas décadas o nascimento de novas lideranças, de sindicais até empresariais, de movimentos sociais, da invasão no ensino claudicante nacional de teses esquerdizantes de uma liberdade ilusória. O país ficou refém de interesses de dirigentes empresários, sindicais, políticos, grupos religiosos, católicos ou evangélicos, todos governam para serem beneficiados, é o toma lá, dá cá. 
E a maioria do povo brasileiro virando uma classe manipulada e sem representatividade, delegando aos políticos o seu destino a bel prazer.
Torre de Babel - divulgação
Hoje, reflexo desses tantos anos de desmando, cujo poder foi mantido por assistencialismo, roubalheira, assassinatos, ensino priorizando uma 'falsa liberdade', um retalho mal-feito de Constituição, a malversação de recursos públicos, jogo de interesse nos poderes Judiciários, Legislativo, com a anuência do Executivo, querem que o brasileiro saiba escolher os seus eleitos.
Qual o quê? Querem tirar desse povo manipulado, que historicamente veio com um DNA de sangue de baratas desde quando a comitiva de D. João VI pisou no Rio de Janeiro.
A fotografia da realidade desde 1960, quando Jânio se tornou presidente contra a vontade da elite política, não mudou em nada. 
Apenas, registro aqui, esses anos todos, desde a faixa que cito 1960/2018, esses vagabundos ficaram mais ricos e poderosos, financeiramente falando e o Estado inchado de apaniguados no 2o. e 3o. escalão. 
Mexer com política, religião, sindicatos, movimentos sociais, virou um grande negócio. 

Outro dia desses li uma frase do historiador, educador e sociólogo, Darcy Ribeiro. 
"Fracassei em tudo o que tentei na vida.
Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. 
Tentei salvar os índios, não consegui. 
Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. 
Mas os fracassos são minhas vitórias.
Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu".

Qual é a lição que tiro disso tudo? Não vale a pena discutir com quem já tem a ideia solidificada, cristalizada.
Respeito a linha que cada um decide seguir. Mas peço que respeitem a minha.
E da minha conduta me responsabilizo em me manter coerente, certo de que nestas eleições, muito provavelmente perderei o meu voto.
As pessoas as quais escolhi não estão dentre as mais votadas, e nem bem colocadas nas pesquisas, mas o certo, é que estou seguindo minha consciência.

Repito aqui o que Darcy sabiamente nos deixou em seu legado de vida.
Fracassei em minhas escolhas. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu. 
É isso aí, que Deus e os seus auxiliares que administram o Universo tenham compaixão do povo brasileiro. É preciso acreditar na Lei do Progresso de Allan Kardec, em sua primeira obra, o  Livro Dos Espíritos. 
Lá está escrito: O homem não pode permanecer perpetuamente na ignorância, porque deve chegar ao fim determinado pela Providência; ele se esclarece pela própria força das circunstâncias. As revoluções morais, como as revoluções sociais, se infiltram pouco a pouco nas idéias, germinam ao longo dos séculos e depois explodem subitamente, fazendo ruir o edifício carcomido do passado, que não se encontra mais de acordo com as necessidades novas e as novas aspirações.
O homem geralmente não percebe, nessas comoções, mais do que a desordem e a confusão momentâneas, que o atingem nos seus interesses materiais, mas aquele que eleva o seu pensamento acima dos interesses pessoais admira os desígnios da Providência que do mal fazem surgir o bem. 
São a tempestade e o furacão que saneiam a atmosfera, depois de a haverem revolvido.

(*) OSPB (Organização Social e Política Brasileira) Disciplina que, de acordo com o Decreto Lei 869/68, tornou-se obrigatória no currículo escolar brasileiro a partir de 1969, juntamente com a disciplina de Educação Moral e Cívica (EMC).