domingo, 4 de fevereiro de 2018

Teatro amador, uma escola de arte pela vida toda.

Memórias.

Hoje acordei e nada faria se não seguir a minha rotina dos domingos.
Cuidar dos meus meninos felinos. Preparar o café matinal enquanto a esposa dormia.
Depois de tudo feito, ligo a TV e assisto uma reportagem no canal pago, Arte 1, eis que aparece Sérgio Mendes, músico brasileiro radicado nos EUA.

Logo me vieram as memórias dos anos 60. Ouvi muito Sérgio Mendes. Seu estilo de Bossa Nova agradava aos americanos e as músicas estouravam nas paradas. E ai o sucesso vinha exportado de volta para o nosso público brasileiro.
Quem não não se lembra de 'Mais que nada', de Jorge Ben (depois virou Benjor).

E isso me provocou a escrever essas memórias. Lembrei-me de uma peça que participei em 1968. Ainda no colégio, meu professor Humberto Sinibaldi, que hoje dá nome do Teatro Municipal de S. J. do Rio Preto, selecionou alguns estudantes e iria montar uma peça.
'Somos Todos do Jardim de Infância', de Domingos de Oliveira. 

Original de 1968 com as anotações.
Fui sonoplasta sem entender de música.

Antes na seleção fui classificado para atuar. Não tinha estudo de teatro. Era xucro total. Aliás, eu e uma dúzia de colegas colegiais.
A dura batalha de tirar de nós, diamantes em pedra bruta, a lapidação para atuar no palco seria complicada.

Fomos nós lá para a parte inicial que eu desconhecia completamente. A leitura coletiva da peça. Um primeiro contato com a técnica teatral.

Ninguém sabia quem seria escolhido para atuar com cada personagem. 
Meninas e meninas, cada um com um livro, anteriormente comprado e entregue com o nome de cada um, com data e tudo. Emocionante.

Ao fazermos essa leitura coletiva, começava ali a definição de cada encaixe com o seu personagem. Seguem as definições. E eu fico de fora. Decepção? Claro que não. Sou escolhido como sonoplasta. Criação total. Viagem nas páginas através das músicas. Anotações e sugestões. Vejam os links abaixo. Trilha com Nat King Cole, Brenda Lee, Luzes da Ribalta, de Carlitos, Aranjuez, mon amour, Letícia narrada por Alain Delon e outras músicas. E seguiam os ensaios.

Parte técnica também é fundamental.

A trilha sonora e a iluminação também são componentes da engrenagem geral. Como fazer uma cena se tornar emocionante? Será que a atuação dos atores basta? Segundo a experiência que vivi, a resposta é não. Num grupo teatral amador, ninguém é ator de carreira, portanto pode-se expor a falta de vocação e experiência. Estávamos no início de tudo. Como disse anteriormente éramos xucros. Tudo iniciaria a partir do começo mesmo.

Nossos diretores tinham essa experiência, Humberto e Sandra Chacra cuidavam de todos os detalhes. O grupo deveria ficar tinindo para as apresentações nos meses seguintes.
Nesse período iríamos participar de muitos Festivais de Teatro, aliás Rio Preto é hoje a meca dos grupos teatrais amadores e até existe o Festival Internacional de Inverno de Teatro Amador por esta razão. Foi um legado de nossos diretores e porque não, do nosso grupo teatral pioneiro, formado apenas por estudantes colegiais.
Página de rosto com registro da data..


Primeira apresentação e viagens pela região.

Nossa primeira apresentação foi no principal clube da cidade. Automóvel Clube. Clube da elite da cidade. Casa cheia. Aplausos no final. Não fazia ideia que era uma coxia (bastidores). A saudação para que tudo desse certo antes de começarmos os trabalhos era falar: "Boas merdas". Fiquei boquiaberto, quantas novidades!

O teatro foi uma escola de vida para mim, que acabei não dando sequência para seguir na vida como uma profissão. Mas garanto, fez parte da minha formação e muito devo ao teatro amador. Muito devo aos contatos com a literatura, livros e relacionamento humano.

As viagens, as primeiras de um adolescente que saia de casa sem os pais. Pegava a estrada e trabalhava no carregamento do material da peça. Cenários, caixa de sons, parte da iluminação, aparelhagem, enfim uma parafernália fantástica que nunca nos deixava exaustos, pelo contrário, nossa adrenalina era o combustível da juventude, ávida para fazer o melhor.

Participação, alegrias e decepções.

Quando falo que o teatro serviu para nos moldar como pessoas lembro-me das alegrias e decepções de todo tipo. Nas relações humanas, com os amigos e colegas, com a hierarquia junto aos nossos diretores, amores não correspondidos, a paixão surgia pelo intenso convívio. Ah, quantas paixões, dentro e fora das atividades artísticas. As decepções nos festivais quando nossa participação não alcançava os primeiros lugares. Ouvir as críticas nos corredores e comentários externos.

Os prêmios por vitórias que nos elevavam ao Olimpo. Ganhávamos e perdíamos. E a vida seguia pelas estradas do interior do país. Nas cidades em que aportávamos. Nos locais em que nos alojávamos. Lembro-me de cada lugar, cada situação. Um dia desses escreverei mais detalhes. Tudo isso foi um caldeirão de experiências que trago para toda a vida.

'Boas merdas' para todos nós. 
Que assim seja. Graças a Deus. Amém.


https://www.youtube.com/watch?v=_dgh4rOmtMk

https://www.youtube.com/watch?v=KaFtsqU2V6U

https://www.youtube.com/watch?v=e9RS4biqyAc

https://www.youtube.com/watch?v=aOIvOEF268I

https://www.youtube.com/watch?v=1TiE2B_Ykik