terça-feira, 23 de janeiro de 2024

A saga de meu avô Salim.

Ainda no Século XIX, começava a saga dos Salim. Nascia em 14/02/1887 em Mitain-Azmi no norte do Líbano, Salim Elias, meu avô paterno. 

Cidade próxima de Trípoli, cidade mais desenvolvida na região norte e fronteiriça com a Síria, donde encontrou a sua noiva prometida, Jamile Abdo. 

Como a situação nesta região passava por grandes dificuldades, essa população ouvia que o paraíso seria na Terra Brasilis, nosso país. A verdadeira terra prometida. 


A bordo do navio Austrieco cuja bandeira não encontrei informações (ainda, estou pesquisando) chegaram na costa brasileira em 24/12/1913. Parece que os destinos eram Rio de Janeiro, Santos e Buenos Aires. Locais que descobri que atracaram alguns parentes. Um primo com certeza desceu e se estabeleceu na capital carioca.


Já meu avô, Salim e esposa que aportaram em Santos, rumaram para Minas Gerais. Em Uberaba nasceu o primogênito, Jorge Salim, em 16/06/1916. E o meu avô, como mascate seguia percorrendo o interior do estado mineiro. Já em Guaxupé na data 01/10/1917, nascia mais um menino, Elias. Assim percorrendo estradas, acaba vindo para terras paulistas. Primeiro em São Carlos, e em seguida ruma para Barretos, nasce outro rebento, meu pai Hatim Salim, em 07/06/1921. E finalmente chega em Rio Preto. Fixa-se no bairro Boa Vista na esquina da rua Prudente de Moraes com Luiz Antônio. O mascate resolve parar de viajar e abre a Sapataria Salim, já que possuía habilidades para o ofício de fazer calçados. 




Estamos no ano de 1923. Com três meninos, decide apostar no caçula, Hatim. Nota-se pelas fotografias o cuidado nas vestimentas e obviamente pelos estudos e relacionamento social. Já os dois filhos, meus tios, percebe-se que estavam livres e soltos. Tanto que partem para as atividades atléticas. Passam a jogar futebol, desagradando a mãe, Jamile, minha avó que acabei não conhecendo, pois falecera um ano antes de que eu viesse ao mundo em 1951. 




Até os anos 40, muita coisa aconteceu. Meu pai foi o único que fez o serviço militar. Casou-se em 1944, teve um filho em 1945, se tornou político, foi eleito vereador, segue como funcionário público, enquanto meus tios permaneceram solteiros. O Jorge virou uma espécie de vendedor viajante da Pastifício Rio Preto, firma de Samy Goraieb, que talvez os antigos que frequentavam o estádio Mário Alves de Mendonça, campo pertencente ao América FC, lembram quando anunciava nos alto-falantes “Massas Imas, informam…”. 

Já, meu tio Elias passou a cuidar da sapataria, que tornara uma loja de calçados na esquina da Prudente com Luiz Antônio, até 1973, quando faleceu.




Meu tio Jorge e meu avô faleceram em 1959. A família encurtava mais ainda. Meu pai e o irmão ficavam idosos, e a nova geração começava a caminhada. Infelizmente somente eu poderia seguir a dinastia de meu avô. Meu irmão contraíra uma enfermidade grave que o deixou limitado intelectualmente, em razão disso ocupava a atenção dos meus pais e não casou-se, ficando impossibilitado de ter herdeiros.


Eu, em 1970, sigo para S. Paulo para estudos que me faria trabalhar em outro ramo de profissão. E a partir de 1973, com a morte do tio Elias, a loja de calçados, encerra as suas atividades. Passam-se os anos e perdemos meu irmão em 2007 e em seguida meu pai, em 2008. Restando minha querida mãe que fica conosco até 2021, nos deixando com 94 anos. Hoje, resta apenas este escriba, Jorge Luiz Salim, que possui três filhos, pro sobrenome continuar. 



E por isso cumpro o meu dever de escrever e deixar registrado esse legado. A verdadeira importância de um imigrante árabe, corajoso e amante da vida em outro país, culturalmente adverso, contra a dificuldade da língua e os dos costumes. Conquistar e deixar um legado vencedor, mostra de que a vida foi feita para todos, basta terem coragem parar lutar. Viva o seo Salim Elias, meu querido avô que me ensinou a ter uma virtude. “Baciencia, Jorginio”.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Entrei em 2024 mais leve.

Nunca imaginei que ao final de 2023 eu fosse me surpreender favoravelmente através das redes sociais.

Eu, um veterano do mundo das comunicações, depois de feito tudo nesse setor, com 72 anos nas costas, já aposentado, vivendo um período sabático em final de trabalho, acabei me redescobrindo, ou o melhor dizendo, despertando para uma atividade que me deixou literalmente nas nuvens, talvez acima desse conceito “nuvem” da tecnologia. Fiquei nas nuvens, espiritualmente, digo.


Uma coisa eu herdei dos meus pais. A memória. E uma outra coisa, aprendi com eles, a gratidão. Pois então, hoje uso e abuso das duas coisas. 


Para entenderem melhor o que quero dizer, vou expor o que aconteceu. 

Sempre vivi minha vida profissional em S. Paulo. Regularmente visitava meus familiares em SJRP. Acabei me afastando do cotidiano da terrinha. Veio o dilema do tempo. Passaram os prazos de vencimentos da vida. Inexorável, implacável, a velhice de meus queridos pais. E a consequência do passamento deles. 


Nunca me imaginei voltar na cidade e resgatar as memórias guardadas pelo meu velho e querido pai, Hatim. Na verdade, uma coisa eu decidi fazer. Procurei perpetuar sua passagem naquela cidade que ele amou tanto. Busquei na Câmara Municipal junto a um vereador, dar um nome de uma via pública ao meu pai. Consegui depois de anos. Já existe a rua Hatim Salim.


Estaria tudo finalizado. Honra e gratidão. Não! Quis o destino que eu ingressasse num grupo no Facebook que cuida da Memória da Cidade. No começo só via os posts. Afinal, redes sociais é coisa para a turma jovem, né? Ledo engano. Quantas postagens sobre a minha terra querida são do passado, e uma postagem sobre um grande amigo do meu pai, Oswaldo Meucci me deu o start para mudar o meu olhar no perfil. 


No fim de 2023, rebuscando o acervo fotográfico e documental para terminar o inventário, acabo surfando nas memórias de minha infância e nos feitos daquele homem que fez de tudo. Sim, meu pai foi vereador por duas vezes, diretor de trânsito inovador, transformando a cidade em pioneira em modernidade na mobilidade dos transportes, instalando no serviço de táxis, os taxímetros e introduziu semáforos nos cruzamentos mais perigosos, que transtornavam a cidade. Foi avaliador, contador, administrador, coordenador, enfim, não faltaram setores na Prefeitura onde trabalhou.





Foi um entusiasta do esporte, como dirigente, membro fundador da Liga Esportiva local, foi representante da Federação de Futebol, foi árbitro de futebol, fundou clube de campo, enfim fez de sua vida um turbilhão de atividades. 


E tudo isso estava registrado em recortes de jornais, documentos, cartas, depoimentos e ricamente repleto em fotos. 


E aí entra essa oportunidade que eu disse no começo. Memória e gratidão. O que mais poderia fazer para honrar a memória do meu saudoso pai?

Comecei a postar algumas notas daquele período em que meu pai foi político, vereador e sua passagem como funcionário público municipal lotado no Serviço de Trânsito como chefe daquele departamento.


Qual para minha surpresa. O retorno foi fantástico. Quantas pessoas se manifestaram. Gente conhecida. Pessoas que jamais acreditaria que se lembrariam daqueles episódios. Maravilhosas lembranças. O número de pessoas que reencontrei, amigos, irmãos de amigos, vizinhos, filhos e netos daquelas pessoas. 

Repercussão sem tamanho de episódios passados há mais de 50 anos. Tive vários pedidos para permitir o uso daquelas fotos em reportagens e vídeos. Resgatei alguns amigos da infância, afastados pelo meu deslocamento para S. Paulo e acabamos em caminhos opostos.


Outro dia desses, recebi de um Centro Espírita em que sou diretor, uma carta psicografada pelo espírito de meu pai. Lá ele diz dentre outras coisas que está orgulhoso desse filho que escreve este texto. Senti que precisava comprovar esta afirmação. Por isso fiz as postagens para resgatar os feitos dele, enquanto vivo. O interessante é que numa destas postagens, um conhecido dele, disse sobre a importância do papel de conselheiro no convívio com ele. Essa pessoa diz que seguiu aos conselhos e se tornou uma pessoa bem sucedida na vida, graças ao que aprendeu com meu pai. E também afirmou que ouvia do seu orgulho de ter o filho caçula, Jorginho, conseguido ser um grande e vitorioso profissional em S. Paulo.


Finalmente quero encerrar estas palavras dizendo o porquê de estar feliz, leve e solto neste início de ano. Sabemos que estar leve, significa estar com a consciência tranquila. Sabedor de ter feito a coisa certa. E ter feito este resgate da memória, me fez sentir que o dever está cumprido. O pouco que fiz e o resultado inesperado com tamanha repercussão mostra o quanto o meu velho foi para a sua família, amigos e a cidade. Grande, honrosa e importante participação na sua missão de vida. Agora, você, meu querido pai já pode ficar em paz nas moradas do Pai e em lugares para o seu desenvolvimento espiritual para um dia voltar e ajudar a humanidade. Te amo, meu querido Paiá. Que assim seja. 

sábado, 23 de dezembro de 2023

Qual é o tamanho do seu Natal?

Como você comemora o Natal? Você é daqueles(as) que compram a maior árvore natural ou artificial? Enfeita com aqueles penduricalhos enormes e coloridos “made Ching ling”, e circula tudo com as lampadinhas que duram uma só montagem, porque enrolam tudo e acaba ficando mais barato comprar um outro. Ou você busca menos ostentação e prefere a simplicidade?


É neste período que eu considero que acontece o maior paradoxo do ano. Senão vejamos. Prega-se a generosidade, caridade e amor ao próximo, mas vemos justamente ao contrário. As exceções são fazer o que se prega. 


O que o espírito de Natal nos demonstra que está cada vez mais diminuto no seio das famílias, nas empresas, nos cultos das igrejas e templos religiosos. Na rua não assistimos mais aquela alegria de outros tempos. Até o comércio está desanimado. As decorações quase sempre são as antigas repetidas e/ou reaproveitadas. Vimos poucos funcionários com o brilho nos olhos. Parece que colocar os chapéus de Noel, os torna bruxos tristonhos.


Mas qual é o tamanho do teu Natal? Compras de presentes caros, ou lembrancinhas do 1,99? Mesa da ceia com frutas e frutos importados, champagne francesa, bacalhau do Porto, peru com termostato e pernil do Mercadão? Ou tudo ao contrário. Sidra Cereser, mortadela, salpicão, lentilha, panetone e rabanadas.


Você ainda tem avós, país e parentes antigos, ainda vivos? A mesa fica farta e cheia de idosos, adultos e crianças ao seu redor? Sentam-se em volta da árvore, aquela que perguntei no princípio se era natural ou artificial? Você chora pela ausência de entes queridos que se partiram? Ou pouco se importa e sai com os mais joviais e se juntam numa roda de bebidas sociais e faz o tal “amigo oculto”?


Aqui não questiono as escolhas de ninguém. Cada qual faz o que deseja. Temos o livre arbítrio, não temos? O tamanho da sua escolha vai te abrir as portas do teu futuro. Estreita ou larga. Lucas 13:24-25 “É estreita a porta do céu. Esforcem-se por entrar, porque muitos tentarão fazê-lo. Mas quando o dono da casa tiver trancado a porta, será já tarde. Se ficarem do lado de fora, ainda que batendo e suplicando: ‘Senhor, abre-nos a porta!’, ele contudo responderá: ‘Não vos conheço nem sei de onde vêm!’ 

Ou de Mateus 7: 13-14. “Só pela porta estreita se pode entrar no céu. A via para o inferno é larga e a sua porta é suficientemente ampla para as multidões que escolherem esse caminho fácil. Mas a porta da vida é pequena, o seu caminho é estreito e poucos o encontram”.


Ah, mas não me venha com o Evangelho, decidir ou ameaçar os que não agem conforme a religião determina. Deixai todos decidirem o que querem fazer. Ponto. Mas ainda pergunto. Qual é o tamanho do seu Natal? Como anda o teu astral neste período? Acha o período chato? Não se adapta ao ‘monta/desmonta’ das peças natalinas? Não usa o 13o. para alegrar aos outros, mas usa para proveito próprio? Enfim não monta presépio, árvore de Natal, não entra nos grupos de Amigo Secreto e é avesso as festas corporativas de final de ano. Portanto o seu Natal é do tamanho da sua escolha. Pequeno. 


Não significa que fazer deste período um engajamento total, montar presépio, árvore de Natal, participar do amigo secreto da firma ou família, montar uma farta ceia, comprar presentes etc. Será que tudo isso fará o seu Natal ser grande? Claro que nem o que prefere escolher ser pequeno ou que opta para que seja grande estão certos ou errados, cada qual na sua preferência. 


O que nos faz ter a grandeza da escolha é ter Deus, no Pai Supremo, causa primária de tudo e inteligência maior do Universo, como nosso guia. O Natal apenas nos dá motivos para nos lembramos do seu filho unigênito, ter nascido num estábulo para nos mostrar que a humildade ainda é a trilha para os seus seguidores. Ter uma árvore grande ou pequena não altera a sua conduta. Fazer uso de árvores naturais ou artificiais é uma conveniência. Assim como comer caviar ou uma fatia de mortadela tenha ver com o tamanho da suas possibilidades financeiras e/ou classe social onde vive. A champagne francesa sacia o paladar como a Sidra Cereser. As pessoas festejam conforme podem. Jesus fica alegre com aqueles que seguem Suas palavras como no Salmo 32, o verso 11 diz assim: “Alegrai-vos no Senhor, e regozijai-vos, vós justos; e exultai, todos vós que sois retos de coração”.




Finalizando, mostro como será o meu Natal.

Escolhido por mim e minha esposa. Perdemos os nossos pais, eu perdi meu único irmão e ela uma irmã e dois cunhados. As nossas famílias ainda permanecem em luto. As crianças ficaram crescidas, viraram adultos com outras responsabilidades e compromissos. O que temos para o momento. Dois gatos. Um casal com as mesmas escolhas. Mesa pequena, porém com coisas tradicionais. Frutas da época, algumas castanhas, figos e damascos secos. Pernil, farofa, salada de batatas. Taças para bebidas, porém sem álcool por imposição médica. Champagne, só se for o antigo guaraná Antárctica. Mas uma coisa, com certeza terá. Um brinde a Jesus. A Deus toda honra e toda glória. Viva a fé. Essa é de um tamanho ENORME. Sempre será, amém.

domingo, 19 de novembro de 2023

20/11 - Dia de Concientes?

Preto é top.

Falarei bem de algo que sofre muito preconceito.

Pois então, é do negro, cor atribuída como negativa, aliás o filme revelado era chamado de negativo. As imagens coloridas eram denominadas de “diapositivos”, também conhecidas como slides. Não me colocarei no quesito ‘preconceito’ racial. Vou ficar apenas no conceito do pretinho básico.

 

Começando na moda.


A atriz, Audrey Hepburn, consagrou o ‘Preto’ básico, vestido do famoso costureiro, Givenchy no filme cult, ‘Bonequinha de luxo’. E como não se lembrar de Rita Hayworth, como Gilda? Seu vestido preto estava exuberante.

Hoje não tem um evento sequer que as mulheres dispensem o ‘Preto’. Os homens para variar, não contestam e seguem na mesma linha. O James Bond, um espião, que tudo faria para ficar secreto, exibe o smoking, ninguém o deixa de repara-lo. E por aí vai. Analisemos o uso de Preto nos carros oficiais, farda de policiais, ministros de tribunais, a toga é toda negra!

 

Sedução.


As mulheres querendo surpreender os homens vestem lingerie preta, não é? 

Vocês já ouviram alguém dizer: Dia de Gala? Não! É Noite de Gala, sim. A noite é a escolha para fazermos as grandes homenagens. A escuridão dá o charme necessário para o clima ficar envolvente.

 

Charme do cinema.


Você que tem aquela idade que está no grupo de risco da pandemia e preso na quarentena, deve ter lembrança da música da cantora Rita Lee, que falava no “escurinho do cinema”, pois é, não conseguimos assistir a um filme ou apresentação, se não for, com as luzes apagadas. Namoros são mais sensuais na penumbra. A coragem é estimulada no escuro, a vergonha é amiga da claridade.

 

Na 7ª arte.


No cinema os grandes personagens se caracterizam de preto. Quem não vibrou com o Zorro? Temos mais, o Pantera Negra, Mulher-Gato, Batman, Darth Vader, Wolverine e uns X-Men, Família Adams e uma infinidade de personagens que se vestem de preto ou escuro. É claro que muitos vilões também são associados a cor negra, mas isso faz parte.

 

Na arte, na música e na literatura.


Temos os destaques inesquecíveis de uso das terminologias referentes ao adjetivo ‘preto, negro, vulto...’

Tchaikovsky com o Lago dos Cisnes, a obra prima O Cisne Negro. Uma dramática história apresentada em forma de balé. Fantástico. E a historinha do Patinho Feio? Lição para evitarmos bullying, pois devemos ensinar as crianças desde pequenas, que não devemos julgar ninguém pelas aparências. Na natureza, os animais de cor preta pagam pelo preconceito. O pássaro-preto, o corvo, ave estigmatizada nos contos de fadas, o anu preto é mais um pássaro na lista depreciativa. O gato preto, associado a sexta-feira, dia 13, noite amaldiçoada, que traz azar. E o chupim, ave que ninguém gosta, a ponto de associarem negativamente às pessoas vagabundas que não trabalham e vivem acomodados à custa de alguém. Enfim, não acabam as comparações maldosas, apenas por serem da monocromia preta. Sinônimos de negro usados para amenizar o peso negativo da palavra. Piche, carvão, alemão, buiu, etc.

 

O céu não é azul?


Você só vê a lua e as estrelas, porque a noite é escura. E o mundo tudo fica inserido nos cosmos e que as dúvidas se o Universo é infinito, morrem com o Buraco Negro. 

E agora um tributo final à escuridão da noite. Em todas as homenagens prestadas aos heróis do atendimento aos acometidos pela pandemia da Covid-19, os médicos, aos enfermeiros, aos assistentes médicos e enfermaria, destaco a cidade do Rio de Janeiro, que iluminou o Cristo Redentor com a vestimenta do profissional da medicina. Isso jamais seria notado, se não fosse a noite, a nossa destacada negra realidade da qual nos inspiramos esta crônica. Pois até as trevas nos fazem procurar a Deus, com as nossas orações. 

 

Reconhecimento.


Por fim neste derradeiro texto sobre a minha redenção ao preto, lembro a todos, principalmente de quem escreve, que os destaques que fazemos nas escritas, são grifados em negrito. Afinal a Elis Regina estava correta em cantar: Black is beautiful. 

Tenho dito.


domingo, 24 de setembro de 2023

Decadência? Não! Experiências geram sabedoria e isso não tem preço.




Recentemente tive que fazer algo independente do meu desejo, praticamente fui obrigado a fazer o inesperado. Jamais teria planejado algo deste tipo. 


Outro dia destes um motorista de entrega de produtos frigoríficos, abalroou minha SUV que estava estacionada na rua. Tivemos a sorte (?) de praticamente presenciar tal ocorrido. O motorista reconheceu o erro e se prontificou e assumir os custos de tal acidente. 


Eu só não contava com o local onde o funileiro faria o conserto. O endereço me surpreendeu. Pensei duas vezes se iria ou não levar o meu carro lá. Pensei em assumir o conserto numa funilaria ao lado de casa. O valor é abaixo da franquia do seguro. 


Ensaiei por três semanas. Vou ou não vou? Acabei indo. A economia de evitar gastar um valor nos dias de hoje falou mais alto.

Confirmo minha ida ao tal funileiro, sigo rumo ao desconhecido. Preparo o GPS e sigo em frente. Dirijo sozinho. Até a metade do caminho, asfalto lindo, dois pedágios, vários radares, e vamos seguindo.


No quilômetro indicado subo o acesso para a segunda parte do caminho. Poucos metros de asfalto e adentro na estradinha de terra. Começa o meu pesadelo. Longe de ser uma estrada vicinal. Tráfego intenso. Caminhões de concretagem, caminhões de pedras, ônibus intermunicipais, carros, vans escolares rurais, e por aí vai. Seguem-se curvas, subidas e descidas, paradas provocadas por congestionamento, paradas de coletivos para acesso ou descida de passageiros. Após 50 minutos, adentro a cidade de Amador Bueno. Rumo ao endereço e pasmem, rua SJ do Rio Preto, 268. Nome da minha cidade natal. Pura ironia.


Chegando na funilaria, apesar de não sentir muita confiança deixo o veículo aos cuidados do responsável de apelido, Alemão.

É hora de voltar. Chamo um Uber. Não há disponibilidade. Decepção? Claro que não.

Retorno só por trem ou ônibus. Escolho o trem. CPTM ontem e Mobilidade hoje, trens velhos, tudo igual, só houve troca de mãos. Demora à parte. Vamos seguir o caminho de volta. Começando inicialmente pela estação Amador Bueno e rumo à Lapa. São 22 estações, uma baldeação. Previsão de chegada, de 1:40 a 2 horas. Ufa. Prepare-se, Jorge.


Passar por lugares que nunca havia visto, despertam a minha curiosidade. Fiquei na janela do vagão. Não sei por causa do horário ou por estar relativamente lotado, o trem segue vagarosamente. Melhor para mim. Olho tudo. Paisagens que refletem o nosso crescimento desordenado e caótico. Como o adensamento populacional sem controle das autoridades governamentais contribuem para prováveis catástrofes em caso de chuvas torrenciais, igual aconteceu em S. Sebastião recentemente. De estação em estação noto o contraste. Quando próximo das cidades a urbanização melhora. Nada que seja animador, mas perto dos olhos da fiscalização, a população respeita as normas.


Sentado naquele lugar, começo a me recordar de outros lugares que utilizei do trem como Atlanta, Buenos Aires, Calgary, Chicago, Londres, Los Angeles, Melbourne, Munich, N. York, Orlando, San Francisco, Santiago, Sidney, Sttutgart, Vancouver, Washington...quantas paisagens lindas, bucólicas, surpreendentes, realmente de tirar o fôlego. É inevitável a comparação. O que é que estou fazendo ali naquele vagão, sujo, com pessoas beirando a classe média para menos. Com seus celulares com auto-falante cujos sons irritam qualquer ouvido despreparado como o meu, por exemplo.

De 60 lugares, em sua maioria ocupados, apenas dois passageiros com head set e um outro jovem com aqueles fones de ouvido profissional. Máscaras para proteger contra gripes e Covid, nem pensar. Crianças de colo se irritando e fazendo os circunvizinhos de assento também se irritarem. Calor, paradas, gente entrando e saindo. Tudo contribuindo para um stress sem fim. 20 estações é um verdadeiro programa de tortura para um sujeito pequeno burguês acostumado com outras regalias da vida elitizada.


Passam-se os dias, final de semana. O intervalo de sete dias, acaba. Aguardo ansiosamente o telefonema do funileiro. Vai ligar ou não? Por quê eu deixei o carro lá sem nada escrito, comprovando o serviço. Ficará bom ou meia boca. Reclamarei pra quem? Julgamento e pré-julgamento. Cabeça em reboliço total. Para piorar, a esposa buzinando nos ouvidos, blá, blá…

De repente, desesperado feito um peixe fora d’água, recebo um Zap do alemão. - Pode vir buscar, patrão! Alívio geral. E mais 22 estações para a volta com destino a Amador Bueno. Pego o carro. Tudo certo! E vamos voltar para casa. Ufa. 

terça-feira, 8 de agosto de 2023

Tiozinho digital. A dura realidade virtual.


Já passam alguns anos que parei de trabalhar. Deixei a rotina do trabalho em 2014. Ainda fiquei meio ativo até antes da pandemia. Aí, fiquei à deriva do mundo corporativo e por consequência dos trabalhos profissionais usando equipamentos digitais e eletrônicos como notebooks, computadores e outros dispositivos da tecnologia da informação.


Atualmente o que manipulo mesmo é um smart phone, IPhone, versão antiga. Escrevo tudo no bloco de notas, como este texto. Tenho um notebook basicão para alguns trabalhos que faço para o Centro Espírita do qual frequento e trabalho na área de divulgação. Edito um boletim informativo trimestral e participo de um grupo de estudos com aulas através de teleconferência. O uso do notebook é o canal adequado. Ferramentas disponíveis como Zoom, Meet e Teams me auxiliam nas aulas de vídeo e o pacote Office para texto dar cabo às demais atividades de preparação do material para o boletim.


Fui no passado um exímio operador de programas de editoração e tratamento de imagens, editei uma revista mensal de associação de classe, enorme com mais de 200 páginas, convivia com um corpo editorial com dezenas de pessoas por décadas nos anos 90. Fui diretor de marketing de uma grande empresa no ramo do turismo brasileiro por 10 anos no florecer do mundo tecnológico. Assisti e participei da evolução do telefone celular e equipamentos de tecnologia. Dos tijolos até o slim, do áudio apenas ao videofone e games de consoles sem fio. Smartphones sofisticados e alta tecnologia. Mas quando você se afasta da rotina de trabalho e convivência diária com grupos de pessoas, na concorrência entre profissionais. Acaba deixando de participar de eventos e treinamentos com outras áreas, cursos e atualizações. O que acontece? Defasagem! 

Já li em algum lugar a afirmação de algum especialista, que ao ficar afastado por meses perde o conhecimento, pela rapidez das mudanças e inovações deste mundo tecnológico. Paga-se caro por essa defasagem. 


Então essa situação teve um episódio engraçado para não se dizer, trágico. Aconteceu comigo nesta semana. Não me sinto envergonhado em narrar esses acontecimentos. Dizem que ninguém se esquece de andar de bicicleta depois que aprendeu. Nadar, atirar, enfim uma série de coisas que aprendemos na vida. Mas uma coisa é clara. Nossos reflexos ficam afetados e ficamos lentos na hora de fazer essas atividades. Mas o saber não perdemos. Acontece que no caso da tecnologia quem não se atualiza, acaba ficando sem o conhecimento e expertise de novas técnicas e avanços tecnológicos. Diariamente temos evoluções surpreendentes. São tantas que ninguém consegue ter um aprendizado total de 100%. Haja tutoriais.


Cometi a insanidade de comprar um relógio de conectividade digital com outros dispositivos como celular e o notebook. Através da paridade por meio do bluetooth. Optei pelo caminho mais fácil e barato. Nada de grandes aquisições e caras por sinal. Aproveitando as ofertas Ching ling da internet, adquiri um smartwatch chinês por uns poucos dólares ($10). Além da demora, quando chegou, estranhamente tinha uma nota fiscal colada no plástico bolha e um pequeno manual em mandarim e inglês. A garantia deve ter ficado no e-commerce, acho que 90 dias. Depois, só com o lig-lig.


Feliz, abro a embalagem e tenho mais outra surpresa. O aparelho veio todo desmontado. 

Procuro um japinha nas galerias que troca baterias de relógios e peço ajuda na montagem. Para ele, dois minutinhos. Enfim montado. Agora é preciso carregá-lo. A carga por 5 horas me dá uma autonomia de 10 dias. Mais tarde, partimos para as configurações. Sem manual, sigo pelo texto em inglês. É necessário baixar um app. Vamos lá. Tudo feito. Segue-se as configurações. Buscando acesso bluetooth. De repente, um barulhinho e uma pequena vibração. Ligado e conectado. Pronto, vamos ao passeio virtual. Tem tudo. Clima, cronômetro, pressão arterial, alguns medidores de corrida, caminhada, natação, esportes, enfim. Vejo um item que me deixou curioso. “Música”. Mexi em tudo. Fiquei ciente de tudo. E me dando por satisfeito. Coloco o relógio no meu pulso. Pronto.


Estava sentado no sofá da sala. Junto da patroa assistimos a TV. De repente o novo produto que adquiri se manifesta. Aparece no visor uma poltrona seguido de um som de sininho. O que significa? Ah, entendi. O app é para ser usado em atividades esportivas. Mexer o corpo. Palavra de ordem. Significado da poltrona quer dizer, mexa-se, movimenta-se. Tire a bunda do sofá. 

De fato entendi a mensagem. Sai, fui até a drogaria perto de casa comprar remédios, hábito atual desse idoso que vos escreve.

Ato contínuo, depois da farmácia, passo no supermercado. Estava passando pelo caixa. Eis que o relógio vibra. O aplicativo envia algumas notificações. Leio rapidamente e tento finalizar a leitura e aperto o relógio. E seguimos com a compra. Embalo os itens e sigo pra casa. 

Quase chegando em casa, vinha ouvindo uma música, estilo rock, me seguindo. Fico irritado. Quem será que está atrás de mim, ouvindo música no celular sem os fones de ouvido. Que sujeito irritante. 

Seguindo para o prédio. Paro na portaria. E o porteiro diz: - Ouvindo música Sr. Salim?

Eu? Pois sim, era o tiozinho aqui que não desligou o relógio. Ao fechar as notificações, apertei “música”, provavelmente. Resultado: devo ter irritado outras pessoas no trajeto. E justamente pensando ao contrário. 

Eta, tiozinho, aprenda de novo. Se atualize, mas antes, saiba conferir se tudo está certo, viu?