sábado, 7 de agosto de 2021

Pai, a primeira escola da vida.

Talvez por ser da geração babyboomer tive a felicidade de ter um lar sólido, coisa incomum nestes últimos tempos. Quantos lares foram destruídos nessas últimas décadas. Quantos jovens foram prejudicados por não terem a figura paterna como esteio central na formação educacional e da personalidade, quesitos importantes para seguirmos uma vida profissional e familiar fortemente equilibradas.


Lembro de diversas vezes, quando meu velho, pacientemente me preparava para enfrentar as armadilhas da vida. Toda vez sua figura de professor de ética, mostrava com atitudes como agir sendo um verdadeiro homem de bem. Justo, paciente, lúcido, coerente, amoroso, amigo, disciplinador, um pilar primoroso.


Lembro do primeiro dia que me levou na porta da escola para que eu me sentisse protegido e essa segurança se estendeu até começar a dura caminhada escolar que passaria a enfrentar na infância, adolescência e depois, quando mudei-me para estudar fora da cidade. Sua figura resplandecia sempre nas horas solitárias daquele rapaz interiorano fazendo cursinho e depois a faculdade.


Aquele homem firme e caridoso me ajudou a dobrar o laço da gravata na formatura e no casamento, me ensinou a ser valoroso no trabalho, na dedicação profissional e nas escolhas, mesmo nas que errei, esteve do meu lado, muitas vezes calado, respondendo com olhares sérios. Mas sua cumplicidade foi fundamental.


Hoje só guardo na lembrança o nosso convívio final. Ele já cansado, sentado numa cadeira com fios plásticos colorida, no alpendre de casa em SJ do Rio Preto, onde pedia que eu lhe levasse a tradicional aguardente no cálice, tomates, azeitonas e pepinos, como aperitivo diário. Depois, quando eu fazia seus pratos preferidos nos almoços de domingo, dizia: - Vc quer me matar com tanta comida gostosa.


É meu velho, não te matei de alegria de comer. Mas a vida que tanto você amava teve o prazo de validade encerrada. Contra a minha vontade. Contra a vontade de sua esposa, minha mãe Odete, os amigos, a nora, os netos, enfim de todos que te conheceram e todos que conviveram consigo. Você foi a pessoa que mais amou a família, esposa e os dois filhos, os amigos, a tua cidade. 


Hoje, passados os 13 anos de sua partida, neste ano quando você completaria 100 anos, neste Dia dos Pais, me encontro com as nossas lembranças e com os olhos lacrimejando e atrapalhando a minha escrita, me reponho e agradeço sua existência, seus ensinamentos. Te amo, jamais te esquecerei. Feliz teu dia, aonde tu estiveres. Beijão, Paiá.