domingo, 14 de agosto de 2016

Homem de fases.

Não se trata de uma paródia da música dos Raimundos, Mulher de fases.
Trata-se de uma retrospectiva auto-biográfica de minhas fases.
Dizem que é normal quando o homem fica mais velho, começa a se lembrar do passado.
Tipo um saudosismo barato, algo para justificar a pouca atividade e quando se está cheirando naftalina. Quando verdadeiramente se está fora dos holofotes.
Ledo engano. Outro dia, ao publicar minhas lembranças e "causos" de quando fui professor, só tive elogios e cobranças para continuar a escrever. 

É preciso registrar o nosso passado, devemos deixar o nosso legado. Afinal, biografia serve para quê?
Uma das modalidades mais publicadas no mundo, são biografias, autorizadas ou não.
É claro que eu não estou querendo me comparar às celebridades. Mas, biografias dos anônimos também pooooooode! 
Vamos editá-las por fases, dai o título, 'Homem de Fases'.

Primeira Infância e pré-adolescência.

Menino feliz do interior. Queria ser maquinista ou aviador. Quem nunca quis? Já era um indício de que eu queria viajar, explorar o mundo.
Digo sempre, uma vez santista, sempre peixe.
Depois veio a fase de querer ser super-herói. Queria ser bombeiro. Tinha uma corporação ou batalhão, não me lembro bem, perto de casa. 
Era soar a sirene, lá ia o Jorginho, correndo no portão para ver os caminhões passarem. Nem me importava com a fatalidade, o local ou a situação que clamava pelo socorro daqueles homens fardados, a adrenalina fervia pela agitação do caminhão e a sirene.
Mais tarde, entre nove e doze anos, era o sonho número UM de qualquer criança. Jogador de futebol. Tinha exemplos em casa para seguir. Meus dois tios jogavam no clube mais querido de S. J. do Rio Preto, o Palestra Esporte Clube. E meu pai havia sido árbitro de futebol, embora nesse período era vereador na cidade. 
Dentre meus amigos, era considerado jogador medíocre, quer dizer, mediano e não médio-volante. Na época, um mulatinho, chamado Mirandinha, jogava muita bola. 
Bombeiro? Olhem só!
Mais tarde veio a ser aquele centro-avante que jogou no São Paulo F.C.e que por fatalidade, teve seu tornozelo quebrado, justamente num jogo contra o América F.C. da nossa cidade natal.
Já no ginásio, jogávamos handball, basquete, voleibol, futebol de salão e outras modalidades, e não segui nenhuma das opções esportivas. 
Era bom mesmo em cuidar do 'social', relacionamentos, artes e outras atividades relacionadas com as Ciências Humanas.

Adolescência com grande atividade.

Mexia com artes, até pintei um mural na parede no auditório do Instituto Mons. Gonçalves. E também por estar ligado ao social, acabei atuando em teatro. Teatro amador, uma grande escola de vida. Tive sorte, vivi o tempo que a cidade descobriu o Festival de Teatro Amador, evento que permanece até hoje. Humberto Sinibaldi, foi quem me descobriu e me convidou. Era meu professor naquela época. 
Deodoro, na festa da República, ano 1968.
Acabei fazendo de tudo. Sonoplastia, eletricista, contra-regra e ator, este último fazendo pequenas pontas. Meu negócio era atuar nos bastidores. 
Hoje, Humberto é homenageado, pois dá nome ao nosso principal teatro municipal. 
O curioso que até um dia desses, encontrei os originais da nossa primeira peça com as marcações de iluminação, trilha sonora e outras notinhas. "Somos Todos do Jardim de Infância", de Domingos de Oliveira, dramaturgo e cineasta carioca.
Nessa época, a ditadura fazia censura e pegava no pé de quem atuava no mundo das artes cênicas. 

Aprendemos na própria carne como era fazer teatro no Brasil. Uma outra peça nossa, mais tarde, teve um grave episódio, quando militares da Aeronáutica, a temida PA, Polícia da Aeronáutica, atirou em alguns integrantes do nosso grupo. Eles foram baleados nas pernas e tivemos que adiar algumas apresentações pré-agendadas em cidades da região e estado de Minas Gerais. Aprendemos, como disse, na própria carne, os tempos opressores da ditadura militar implantada a partir de abril de 64.

São Carlos e São Paulo, anos 70.
Quarto na República dos jovens estudantes, 1974.

Copa no México, tri-campeões, república de jovens, bagunça, zoeira, bordeis, naquela época ainda tinha a tal zona, casas da luz vermelha, em S. Carlos não era possível, o negócio era viajar para Ribeirão Preto ou Araraquara. Lá a coisa fervia no Pinguim, tradicional boteco de bebedeira e pegação, cidade universitária, gente sarada e a carne era fraca.
Tudo podia, menos drogas. Éramos loucos por natureza. Alguns batiam um baseado no máximo, mas o que deixava a turma doidinha era o álcool. Pernaut, Gin, conhaque, Cuba Libre, bebedeira geral.
Em S. Paulo, havia a república de estudantes na rua Japurá, no Bexiga. Quase 20 rapazes numa casa. Batidas de polícia, uma vez por semana. Teve de tudo. Gente que levou tiro no pé, briga com travesti, ameaças de morte com revólver encostado na fronte e no peito.
Muita loucura, mas todos, nos dias de trabalho ou estudo, estavam lá bem, tranquilos, normais, cumprindo as nossas obrigações. 
Vimos o nascimento do III Whisky. Mas tinham, o Baiúca, o Cave, o Kilt, o Tonton e outros 'antros' da boêmia próximo da Praça Roosevelt. O templo do luxo era o La Licorne e o Dakkar, do lixo, na Major Sertório, onde hoje apenas resta o único sobrevivente, o Love Story. 
Vamos aos nomes dos heróis daquela época. Antonio, tínhamos dois, o Pretti e o Ferrarezzi. Walter, Munir, Zecão, Bichinho da gota, Léo, Gabriel, Ademir, João Batista, os dois Coelhinhos, Pagalo, Luís japonês, Salvador e eu. A dona da casa era dona Alice, uma espanhola fortona que não usava desodorante, quando ia receber o pagamento da mensalidade, a gente pagava o mais rápido possível. Seria tática?
Ah, ela tinha uma filha, e adivinhem com quem ela se enrabichou? Este escriba que vos escreve. Nada a declarar.

Recém formado, professor e empresário.

Acabava de me formar na ESPM, viro professor na Fiam/FMU, logo em seguida na Metodista, fundamos a Canopus Propaganda, Marcos Vinícius, José Antonio e eu, com uns outros para preencher os demais cargos, Sílvio e Léo, que oficialmente era Euclides, acabavam ingressando nos documentos de estabelecimento da agência de publicidade.
Já conhecia o candidato, João Dória (Embratur) em 1985.
Começamos na rua Pedro Américo, centro, mais tarde passamos para rua Germaine Buchard, na Água Branca. Lá nos consagramos como uma das melhores agências de publicidade de S. Paulo, ficando dentre as 120 melhores e maiores. 
Logo depois, fomos adquiridos pela Ad/Ag, agência de um de nossos professores na ESPM, Luís Celso Piratininga. Durou pouco mais de ano, e depois, cada um seguiu para outros cantos. Continuei professor, abri um pequeno estúdio (Âmbar Produções) e já no final da década de 90, após o segundo casório, sigo para um novo desafio na Abras, uma associação de classe empresarial. Essa história já contei bastante. 
Novo milênio, sigo na mesma área e troco de trabalho, começo atuar em marketing no turismo e lá permaneço até meados de 2014 e penduro as chuteiras. 

1975/2014, período mais intenso.

Dois casamentos, três filhos e vida atribuladíssima. Dizer que tinha tempo para lecionar, atender clientes e produzir as tarefas encapadas, pode-se dizer que eram até fáceis. O deslocamento ainda era possível na cidade. Menos carros, menos radares, menos leis que hoje nos travam e ameaçam.
Abras, viagem ao FMI em Chicago, 1995.
A cidade era um pouco mais civilizada, notícias ruins só no jornal impresso e vendido nas bancas, 'Notícias Populares' e no SBT, no programa de TV, 'Aqui e Agora'.
Com trabalho solo, realizo muitos eventos esportivos ligado ao futebol e voleibol.
Deu até para realizar o primeiro e único rodeio em S. Paulo, capital. Foi no estádio da Portuguesa Desportos em 1988.

1989 a 2000, deixo de lecionar, atuo uma década na área editorial e também com eventos de porte no Rio de Janeiro e S. Paulo, ligado ao mundo da distribuição, varejo e indústria de alimentos. 
Tecnologia e turismo, após o ano de 2001, já como profissional contratado, atuo com foco ainda maior. Lá permaneço até abril de 2014. 
Fundei uma ONG INVIBES, Instituto Vital do Bem Estar Social da Terceira Idade em 2015. 
Hoje com os filhos já crescidos, vivendo uma vida mais pacata, pré-aposentado, me encontro em fase de reforma íntima. No Espiritismo, com a Doutrina de Kardec, procuro servir a sociedade, prestando serviços comunitários e fazendo o bem, até quando o corpo permitir e puder. 
Que assim seja, graças a Deus.