terça-feira, 23 de janeiro de 2024

A saga de meu avô Salim.

Ainda no Século XIX, começava a saga dos Salim. Nascia em 14/02/1887 em Mitain-Azmi no norte do Líbano, Salim Elias, meu avô paterno. 

Cidade próxima de Trípoli, cidade mais desenvolvida na região norte e fronteiriça com a Síria, donde encontrou a sua noiva prometida, Jamile Abdo. 

Como a situação nesta região passava por grandes dificuldades, essa população ouvia que o paraíso seria na Terra Brasilis, nosso país. A verdadeira terra prometida. 


A bordo do navio Austrieco cuja bandeira não encontrei informações (ainda, estou pesquisando) chegaram na costa brasileira em 24/12/1913. Parece que os destinos eram Rio de Janeiro, Santos e Buenos Aires. Locais que descobri que atracaram alguns parentes. Um primo com certeza desceu e se estabeleceu na capital carioca.


Já meu avô, Salim e esposa que aportaram em Santos, rumaram para Minas Gerais. Em Uberaba nasceu o primogênito, Jorge Salim, em 16/06/1916. E o meu avô, como mascate seguia percorrendo o interior do estado mineiro. Já em Guaxupé na data 01/10/1917, nascia mais um menino, Elias. Assim percorrendo estradas, acaba vindo para terras paulistas. Primeiro em São Carlos, e em seguida ruma para Barretos, nasce outro rebento, meu pai Hatim Salim, em 07/06/1921. E finalmente chega em Rio Preto. Fixa-se no bairro Boa Vista na esquina da rua Prudente de Moraes com Luiz Antônio. O mascate resolve parar de viajar e abre a Sapataria Salim, já que possuía habilidades para o ofício de fazer calçados. 




Estamos no ano de 1923. Com três meninos, decide apostar no caçula, Hatim. Nota-se pelas fotografias o cuidado nas vestimentas e obviamente pelos estudos e relacionamento social. Já os dois filhos, meus tios, percebe-se que estavam livres e soltos. Tanto que partem para as atividades atléticas. Passam a jogar futebol, desagradando a mãe, Jamile, minha avó que acabei não conhecendo, pois falecera um ano antes de que eu viesse ao mundo em 1951. 




Até os anos 40, muita coisa aconteceu. Meu pai foi o único que fez o serviço militar. Casou-se em 1944, teve um filho em 1945, se tornou político, foi eleito vereador, segue como funcionário público, enquanto meus tios permaneceram solteiros. O Jorge virou uma espécie de vendedor viajante da Pastifício Rio Preto, firma de Samy Goraieb, que talvez os antigos que frequentavam o estádio Mário Alves de Mendonça, campo pertencente ao América FC, lembram quando anunciava nos alto-falantes “Massas Imas, informam…”. 

Já, meu tio Elias passou a cuidar da sapataria, que tornara uma loja de calçados na esquina da Prudente com Luiz Antônio, até 1973, quando faleceu.




Meu tio Jorge e meu avô faleceram em 1959. A família encurtava mais ainda. Meu pai e o irmão ficavam idosos, e a nova geração começava a caminhada. Infelizmente somente eu poderia seguir a dinastia de meu avô. Meu irmão contraíra uma enfermidade grave que o deixou limitado intelectualmente, em razão disso ocupava a atenção dos meus pais e não casou-se, ficando impossibilitado de ter herdeiros.


Eu, em 1970, sigo para S. Paulo para estudos que me faria trabalhar em outro ramo de profissão. E a partir de 1973, com a morte do tio Elias, a loja de calçados, encerra as suas atividades. Passam-se os anos e perdemos meu irmão em 2007 e em seguida meu pai, em 2008. Restando minha querida mãe que fica conosco até 2021, nos deixando com 94 anos. Hoje, resta apenas este escriba, Jorge Luiz Salim, que possui três filhos, pro sobrenome continuar. 



E por isso cumpro o meu dever de escrever e deixar registrado esse legado. A verdadeira importância de um imigrante árabe, corajoso e amante da vida em outro país, culturalmente adverso, contra a dificuldade da língua e os dos costumes. Conquistar e deixar um legado vencedor, mostra de que a vida foi feita para todos, basta terem coragem parar lutar. Viva o seo Salim Elias, meu querido avô que me ensinou a ter uma virtude. “Baciencia, Jorginio”.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Entrei em 2024 mais leve.

Nunca imaginei que ao final de 2023 eu fosse me surpreender favoravelmente através das redes sociais.

Eu, um veterano do mundo das comunicações, depois de feito tudo nesse setor, com 72 anos nas costas, já aposentado, vivendo um período sabático em final de trabalho, acabei me redescobrindo, ou o melhor dizendo, despertando para uma atividade que me deixou literalmente nas nuvens, talvez acima desse conceito “nuvem” da tecnologia. Fiquei nas nuvens, espiritualmente, digo.


Uma coisa eu herdei dos meus pais. A memória. E uma outra coisa, aprendi com eles, a gratidão. Pois então, hoje uso e abuso das duas coisas. 


Para entenderem melhor o que quero dizer, vou expor o que aconteceu. 

Sempre vivi minha vida profissional em S. Paulo. Regularmente visitava meus familiares em SJRP. Acabei me afastando do cotidiano da terrinha. Veio o dilema do tempo. Passaram os prazos de vencimentos da vida. Inexorável, implacável, a velhice de meus queridos pais. E a consequência do passamento deles. 


Nunca me imaginei voltar na cidade e resgatar as memórias guardadas pelo meu velho e querido pai, Hatim. Na verdade, uma coisa eu decidi fazer. Procurei perpetuar sua passagem naquela cidade que ele amou tanto. Busquei na Câmara Municipal junto a um vereador, dar um nome de uma via pública ao meu pai. Consegui depois de anos. Já existe a rua Hatim Salim.


Estaria tudo finalizado. Honra e gratidão. Não! Quis o destino que eu ingressasse num grupo no Facebook que cuida da Memória da Cidade. No começo só via os posts. Afinal, redes sociais é coisa para a turma jovem, né? Ledo engano. Quantas postagens sobre a minha terra querida são do passado, e uma postagem sobre um grande amigo do meu pai, Oswaldo Meucci me deu o start para mudar o meu olhar no perfil. 


No fim de 2023, rebuscando o acervo fotográfico e documental para terminar o inventário, acabo surfando nas memórias de minha infância e nos feitos daquele homem que fez de tudo. Sim, meu pai foi vereador por duas vezes, diretor de trânsito inovador, transformando a cidade em pioneira em modernidade na mobilidade dos transportes, instalando no serviço de táxis, os taxímetros e introduziu semáforos nos cruzamentos mais perigosos, que transtornavam a cidade. Foi avaliador, contador, administrador, coordenador, enfim, não faltaram setores na Prefeitura onde trabalhou.





Foi um entusiasta do esporte, como dirigente, membro fundador da Liga Esportiva local, foi representante da Federação de Futebol, foi árbitro de futebol, fundou clube de campo, enfim fez de sua vida um turbilhão de atividades. 


E tudo isso estava registrado em recortes de jornais, documentos, cartas, depoimentos e ricamente repleto em fotos. 


E aí entra essa oportunidade que eu disse no começo. Memória e gratidão. O que mais poderia fazer para honrar a memória do meu saudoso pai?

Comecei a postar algumas notas daquele período em que meu pai foi político, vereador e sua passagem como funcionário público municipal lotado no Serviço de Trânsito como chefe daquele departamento.


Qual para minha surpresa. O retorno foi fantástico. Quantas pessoas se manifestaram. Gente conhecida. Pessoas que jamais acreditaria que se lembrariam daqueles episódios. Maravilhosas lembranças. O número de pessoas que reencontrei, amigos, irmãos de amigos, vizinhos, filhos e netos daquelas pessoas. 

Repercussão sem tamanho de episódios passados há mais de 50 anos. Tive vários pedidos para permitir o uso daquelas fotos em reportagens e vídeos. Resgatei alguns amigos da infância, afastados pelo meu deslocamento para S. Paulo e acabamos em caminhos opostos.


Outro dia desses, recebi de um Centro Espírita em que sou diretor, uma carta psicografada pelo espírito de meu pai. Lá ele diz dentre outras coisas que está orgulhoso desse filho que escreve este texto. Senti que precisava comprovar esta afirmação. Por isso fiz as postagens para resgatar os feitos dele, enquanto vivo. O interessante é que numa destas postagens, um conhecido dele, disse sobre a importância do papel de conselheiro no convívio com ele. Essa pessoa diz que seguiu aos conselhos e se tornou uma pessoa bem sucedida na vida, graças ao que aprendeu com meu pai. E também afirmou que ouvia do seu orgulho de ter o filho caçula, Jorginho, conseguido ser um grande e vitorioso profissional em S. Paulo.


Finalmente quero encerrar estas palavras dizendo o porquê de estar feliz, leve e solto neste início de ano. Sabemos que estar leve, significa estar com a consciência tranquila. Sabedor de ter feito a coisa certa. E ter feito este resgate da memória, me fez sentir que o dever está cumprido. O pouco que fiz e o resultado inesperado com tamanha repercussão mostra o quanto o meu velho foi para a sua família, amigos e a cidade. Grande, honrosa e importante participação na sua missão de vida. Agora, você, meu querido pai já pode ficar em paz nas moradas do Pai e em lugares para o seu desenvolvimento espiritual para um dia voltar e ajudar a humanidade. Te amo, meu querido Paiá. Que assim seja.