quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Porque deixei de ser professor.

Eu já fui professor. Orgulho e paradoxo. 

Não posso tirar a real importância de ter sido professor universitário por 10 anos.
Nunca passou por decisão própria, foi obra do destino, sim! Não pensei em ser professor, pois no meu tempo de estudante, o ensino colegial era divido em três áreas.
Científico, Normal e Clássico, se não me engano. Fiz o científico, pois meu desejo era arquitetura ou engenharia civil. Se quisesse ser professor teria seguido o Normal.

Acabei até saindo de minha cidade natal para fazer curso preparatório para engenharia em S. Carlos, SP. Em 70, sigo para S. Paulo e mudo completamente de ideia e presto vestibular para arquitetura.
Não conseguindo, tento mais uma vez no ano seguinte em 1971. Depois de algumas escolhas (Faap e Mackenzie) acabo optando para Escola Superior de Propraganda e Marketing.

Ser publicitário era o meu objeto de desejo. Alto salário e status por prêmios nos festivais, à época falava-se no Clio e outros menos famosos nos EUA e Europa. 
Meus mestres eram Roberto Duailibi, Francisco Gracioso, Otávio Florisbal, Neil Ferreira, Alberto Demirdjian, Luiz Piratininga, Gerhard Gilda, Mário Chamie, José Roberto Whitaker Penteado e outros mais.

As agências eram DPZ, J.W.T, MacCann, Norton, P.A. Nascimento, Salles, Proeme (agência de Ênio Mainardi, pai do polêmico Diogo Mainardi), MPM (a mais premiada), Júlio Ribeiro e outras talentosas agências. 
Nosso grupo de estudantes era formado pelos meus amigos Marcus Vinicius, José Antonio Coelho e outros. O grupo acabou sendo o embrião de uma pequena agência que montamos após a nossa formação.

Surge a Canopus Propaganda erguida na rua Da. Germaine Buchard na Água Branca, perto do DEFE. Eramos tão talentosos que fomos convidados a trabalhar em conjunto com uma agência grande de um antigo professor, a Ad/Ag, de Luiz Celso Piratininga.
E é neste momento que aparece a grande oportunidade para que eu me transformasse em um professor. A antiga Fiam, convida meu sócio, Marcus Vinicius e ele nos leva junto para a faculdade no Jabaquara.
Ricardo Amaral, eu e José Abdo na FMU/Fiam
 Mais tarde a FMU incorpora a Fiam, vira a universidade Fiam/FMU e muda-se para o Morumbi. Mais tarde em 1979, sou convidado para lecionar na Metodista na cidade de S. Bernardo do Campo, SP. Lá também fiz a minha pós-graduação para poder seguir como professor. Passei como um meteoro pelo Objetivo por apenas um semestre. 

Só na Metodista, cresço na carreira, me torno professor-orientador e chefe do estágio no último semestre, precursor do TCC. Leciono além de publicidade, Relações Públicas e Jornalismo. Tive estudantes que mais tarde tiveram expressão nacional como o jornalista da FSP, Fernando Rodrigues e a âncora da Globo em Brasília, Zileide Silva.
Na publicidade tive alunos como Roberto Fischer, sócio do Roberto Justus, por exemplo. 
Na Metodista, edifício Delta.

Tempos bons. Para se ter um exemplo da importância desse período em minha vida, me casei com duas alunas. A primeira na Fiam, e depois mais tarde, divorciado, casei-me novamente com outra aluna da Metodista. Me lembro numa formatura, onde era paraninfo, as alunas vinham receber o canudo, me abraçavam e me beijavam, e o meu diretor-geral, pastor Gérson Soares, comentou à boca pequena que eu era muito chegado às moças. Pura maldade e preconceito.

Até hoje sou amigo de muitas delas, aliás trabalhei muitos anos com uma outra ex-aluna, Sônia Salgueiro na redação da SuperHiper na Abras. Continuamos amigos e até comemoramos nossos re-encontros em botecos para papos, petiscos e cervejas até hoje. Tem também uma ex-aluna no trade de turismo, Ana Maria Donato, que sempre me trata com carinho e respeito quando nos cruzamos em eventos do setor.

Mas vem aí a grande pergunta. Por que deixei essa missão tão nobre? Parece mentira, mas não é. Foi por causa de uma palavra. Mais ainda por causa de uma geração que se expressava de maneira simples e usava essa palavrinha.
Quando passei a lecionar em 76, as forma de me abordarem eram, mestre, profi, fessor, teacher, chefe e outras palavras consagradas para denominar o papel de professor. 
No início dos trabalhos letivos na Metodista, ao me apresentar para os quase 50/70 alunos numa manhã de fevereiro, com o o sol atravessando através das grandes janelas do Edifício Delta, próximo da via Anchieta, um dos alunos que ingressava naqueles dias ao mundo universitário, se dirige a mim e tasca. - Tio, posso sair?
Não resisti. Esperei acabar aquela primeira aula, desci incontinenti ao meu diretor, Miguel e pedi demissão. Ninguém entendeu. Mas no meu foro íntimo, refletia! Me chamarem de mestre, teacher, fessor, eu aguento, mas de "tio", jamais.
Acabei encerrando meu ofício naquele momento. Fui. Feliz Dia do Professor

"O professor disserta sobre ponto difícil do programa.
Um aluno dorme, 
Cansado das canseiras desta vida.
O professor vai sacudí-lo?
Vai repreendê-lo? Não.
O professor baixa a voz,
Com medo de acordá-lo".
Carlos Drummond de Andrade

sábado, 3 de outubro de 2015

Política para mim, é a arte da desilusão.

Voltarei ao meu tempo de moleque, anos 60. Com os meus onze anos de idade frequentava as rodas em que meu querido e saudoso pai gostava de circular.
Força do hábito, pois tinha sido vereador por duas legislaturas em S. José do Rio Preto, interior de S. Paulo.
Ele era muito querido e saudado por muitos correligionários, dai a sua requisição aos eventos que destacavam a classe política rio-pretense.
Não conseguindo sua terceira legislatura ou segunda re-eleição, como quiserem, voltou ao seu cotidiano normal, servindo a Prefeitura local como diretor de trânsito municipal.

Naquela época os serviços de praças, os tais motoristas particulares, hoje quando chamamos de táxis, cobravam a corrida como queriam. Meu pai, instituiu o taxímetro. 
Foi uma revolução, pois foi ameaçado e atacado por quase todos. Depois colocou os semáforos nos principais cruzamentos da cidade. Mais uma revoada de reclamações.
Os dois de paletó somos nós, tal pai, tal filho.

Mas o que foi mais polêmico de sua gestão, foi a exigência de melhorar a qualidade nos serviços de táxis, exigindo que os carros fossem maiores, luxosos e com quatro portas. 
Como estou falando do anos 60, os carros eram Simca Chambord, Aero-Willys e Alfa Romeo, tipo luxo. Eram montados no ABC, nacionais por excelência. 
Então as concessionárias dos carros populares de Rio Preto ficaram assanhadas e partiram para o ataque, vamos vender os carros mais baratos, os tais táxis-mirins, a alcunha depreciativa, é claro. Eram os veículos menores de mercado, duas portas e apertados. O VW-Fusca e o Renault Dauphine, depois virou Gordini. 
Na parte intermediária, nem luxo, nem mirim, tínhamos o DKV, modelo Belcar, se não me engano. 

Digo tudo isso pelo simples fato de que nessa ocasião, com o veto de meu pai para os tais carros mirins, surgiu a primeira experiência que vivi com uma tentativa de corrupção.
Com os meus poucos 12 anos de idade vi meu pai ser assediado pelas concessionárias a aceitar os táxis-mirins. Dada a sua intransigência, os dirigentes das concessionárias foram ao extremo. Um dia, no portão de casa, amanheceu um desses carros com um motorista que bateu palmas e foi atendido pela minha mãe.
Perguntava pelo meu pai. Quando ele se dirigiu ao cidadão, este o cumprimentou e entregou-lhe as chaves do veículo e disse. - É do senhor. Cortesia da concessionária!
Confesso que nunca tinha visto meu pai perder as estribeiras. O funcionário da concessionária sumiu apavorado, levando o carro estacionado defronte a nossa residência.
Eu em minha inocência infantil, perguntei ao meu pai. Como não tínhamos carro, meu pai nunca tirou carta de habilitação, repito, perguntei: Pai, por que você não aceitou?
Ele ainda furioso, disse: Quero dormir em paz com a minha consciência. Jamais admitirei macular minha honradez. E continuou, se dirigindo a mim, e você aprenda isso para tua vida, também.

Sua hombridade nunca foi posta à prova como desta vez, justamente na frente de sua coisa mais importante, a sua família, pois lá estavam sua esposa Odete e os seus dois filhos, Hatim Jr. e Jorge, além da vizinhança. Não demorou muito, a força do lobby político e corrupto das concessionárias, levaram o prefeito da cidade a exonerar o meu pai do cargo de diretor de trânsito da cidade. Sentimos muito, mas ficou o exemplo maior de dignidade e honestidade de um pai de família e ex-político. 

Aliás me recordo sempre de outros ensinamentos de meu pai. Um deles foi num casamento de um funcionário da prefeitura, onde meus pais foram padrinhos dele. A certa altura da cerimônia, é pedido que meu pai faça uma saudação aos nubentes. Ele elegantemente se levanta, fala poucas palavras e após aplausos volta a sentar-se. Um outro cidadão, não obstante ser chamado, resolve falar também. 
Tive a iniciativa de cronometrar, ele falou bem mais que o meu pai. Ai veio a principal pergunta. - Pai, porque você discursou menos que ele, você é melhor? O meu ídolo, responde sabiamente. Filho, fala menos besteiras, quem fala menos.

Cresci, me formei, me casei duas vezes, trabalhei em comunicação, e não me canso de lembrar disso. Hoje a política me dá nojo, as pessoas corruptas me dão vontade de vomitar. A corrupção é um câncer que somente evolui, não existe vacina. Os homens de valor são minorias, ontem, hoje e sempre. 

Irei viver mais, irei me desiludir mais, irei lembrar dos exemplos de meu pai e cairei em decepção mais vezes. E se ouvir de novo que a política é a arte de fazer o impossível, imediatamente gritarei, se preciso for. Não é arte porra nenhuma. Essa política é pequena, é fisiológica, adotada depois da queda da República Velha, os filhos bastardos da velha UDN, os PMDBistas e Petistas de hoje, PSDBistas de ontem me repugnam, sou uma pessoa desiludida. Não acredito nesse modelo de República. Não acredito nelles.