sábado, 3 de outubro de 2015

Política para mim, é a arte da desilusão.

Voltarei ao meu tempo de moleque, anos 60. Com os meus onze anos de idade frequentava as rodas em que meu querido e saudoso pai gostava de circular.
Força do hábito, pois tinha sido vereador por duas legislaturas em S. José do Rio Preto, interior de S. Paulo.
Ele era muito querido e saudado por muitos correligionários, dai a sua requisição aos eventos que destacavam a classe política rio-pretense.
Não conseguindo sua terceira legislatura ou segunda re-eleição, como quiserem, voltou ao seu cotidiano normal, servindo a Prefeitura local como diretor de trânsito municipal.

Naquela época os serviços de praças, os tais motoristas particulares, hoje quando chamamos de táxis, cobravam a corrida como queriam. Meu pai, instituiu o taxímetro. 
Foi uma revolução, pois foi ameaçado e atacado por quase todos. Depois colocou os semáforos nos principais cruzamentos da cidade. Mais uma revoada de reclamações.
Os dois de paletó somos nós, tal pai, tal filho.

Mas o que foi mais polêmico de sua gestão, foi a exigência de melhorar a qualidade nos serviços de táxis, exigindo que os carros fossem maiores, luxosos e com quatro portas. 
Como estou falando do anos 60, os carros eram Simca Chambord, Aero-Willys e Alfa Romeo, tipo luxo. Eram montados no ABC, nacionais por excelência. 
Então as concessionárias dos carros populares de Rio Preto ficaram assanhadas e partiram para o ataque, vamos vender os carros mais baratos, os tais táxis-mirins, a alcunha depreciativa, é claro. Eram os veículos menores de mercado, duas portas e apertados. O VW-Fusca e o Renault Dauphine, depois virou Gordini. 
Na parte intermediária, nem luxo, nem mirim, tínhamos o DKV, modelo Belcar, se não me engano. 

Digo tudo isso pelo simples fato de que nessa ocasião, com o veto de meu pai para os tais carros mirins, surgiu a primeira experiência que vivi com uma tentativa de corrupção.
Com os meus poucos 12 anos de idade vi meu pai ser assediado pelas concessionárias a aceitar os táxis-mirins. Dada a sua intransigência, os dirigentes das concessionárias foram ao extremo. Um dia, no portão de casa, amanheceu um desses carros com um motorista que bateu palmas e foi atendido pela minha mãe.
Perguntava pelo meu pai. Quando ele se dirigiu ao cidadão, este o cumprimentou e entregou-lhe as chaves do veículo e disse. - É do senhor. Cortesia da concessionária!
Confesso que nunca tinha visto meu pai perder as estribeiras. O funcionário da concessionária sumiu apavorado, levando o carro estacionado defronte a nossa residência.
Eu em minha inocência infantil, perguntei ao meu pai. Como não tínhamos carro, meu pai nunca tirou carta de habilitação, repito, perguntei: Pai, por que você não aceitou?
Ele ainda furioso, disse: Quero dormir em paz com a minha consciência. Jamais admitirei macular minha honradez. E continuou, se dirigindo a mim, e você aprenda isso para tua vida, também.

Sua hombridade nunca foi posta à prova como desta vez, justamente na frente de sua coisa mais importante, a sua família, pois lá estavam sua esposa Odete e os seus dois filhos, Hatim Jr. e Jorge, além da vizinhança. Não demorou muito, a força do lobby político e corrupto das concessionárias, levaram o prefeito da cidade a exonerar o meu pai do cargo de diretor de trânsito da cidade. Sentimos muito, mas ficou o exemplo maior de dignidade e honestidade de um pai de família e ex-político. 

Aliás me recordo sempre de outros ensinamentos de meu pai. Um deles foi num casamento de um funcionário da prefeitura, onde meus pais foram padrinhos dele. A certa altura da cerimônia, é pedido que meu pai faça uma saudação aos nubentes. Ele elegantemente se levanta, fala poucas palavras e após aplausos volta a sentar-se. Um outro cidadão, não obstante ser chamado, resolve falar também. 
Tive a iniciativa de cronometrar, ele falou bem mais que o meu pai. Ai veio a principal pergunta. - Pai, porque você discursou menos que ele, você é melhor? O meu ídolo, responde sabiamente. Filho, fala menos besteiras, quem fala menos.

Cresci, me formei, me casei duas vezes, trabalhei em comunicação, e não me canso de lembrar disso. Hoje a política me dá nojo, as pessoas corruptas me dão vontade de vomitar. A corrupção é um câncer que somente evolui, não existe vacina. Os homens de valor são minorias, ontem, hoje e sempre. 

Irei viver mais, irei me desiludir mais, irei lembrar dos exemplos de meu pai e cairei em decepção mais vezes. E se ouvir de novo que a política é a arte de fazer o impossível, imediatamente gritarei, se preciso for. Não é arte porra nenhuma. Essa política é pequena, é fisiológica, adotada depois da queda da República Velha, os filhos bastardos da velha UDN, os PMDBistas e Petistas de hoje, PSDBistas de ontem me repugnam, sou uma pessoa desiludida. Não acredito nesse modelo de República. Não acredito nelles.

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