quinta-feira, 27 de abril de 2023

Do jeito que o diabo gosta.

Estamos passando um momento crucial, aliás se vivo fosse, meu querido avô Elias, diria: - Estamos passando um momento conforme o capeta gosta. 

O país está num clima, cuja vibração é pesadíssima. Estamos em pleno império do ódio. Lembro de uma fala do inspetor Hercule Poirot, figura ficcional dos livros de Ágatha Christie, escritora britânica famosa campeã de best sellers no século 20. Em alguma parte do encerramento das soluções dos crimes, ele dizia: O ódio é o verdadeiro veneno da humanidade.


E é justamente o que vivenciamos no mundo, mais particularmente em nosso Brasil. Estamos vivendo em pleno império do linchamento digital através das redes sociais. Um verdadeiro veredito sem os ritos naturais de um julgamento justo que se deve cumprir num tribunal com as duas partes expondo seus argumentos de defesa e acusação. Simplesmente escolhe-se o culpado e a massa digital o condena. Não existe o contraditório. E pena de quem levante essa possibilidade. É taxado na hora como gado ou planta, defensores do indefensável, daquele que a comunidade virtual determinou que será condenado e ponto. 


Essa chaga surgiu nos anos 80. Inicialmente na televisão. Lembro como marco inaugural no debate político da eleição à presidência da república na disputa entre Collor de Melo e Luís Ignácio Lula da Silva. A manipulação feita pela rede Globo foi vergonhosa. Resultado: Collor venceu o Lula. O belo venceu o vilão. Anos depois vimos que ambos seriam os políticos mais condenados da história política brasileira. Hoje a Globo é taxada de lixo por usar a manipulação das informações como linha editorial jornalística principal.


Já neste milênio com o arma principal de manipulação surgem os “programas de TV tipo reality”, um real celeiro de atividade de um comportamento psicológico dos mais repugnantes, o voyeurismo. Ali o pior dos expectadores surge. A fofoca, a fala comportamental das mais rasteiras possível.

Em todos os espaços da mídia. Televisiva, escrita através das revistas semanais e jornais, diariamente. 

Com o desenvolvimento da tecnologia da informação, surgem as Redes Sociais. O Orkut foi o pioneiro, mas com o avanço tecnológico dos equipamentos de navegação, móbiles e gerações de telefonia digital, o oceano aberto sem controle, surgindo os aplicativos de Facebook, Instagram, WhatsApp, superando os e-mails, primatas das primeiras cadeias de influências malevolentes.


Aquilo que parecia um caminho de comunicação interpessoal entre universidades no ano 1995, descambou para uma terra sem dono. Como uma ferramenta pensada para ser pedagógica se transforma em comunicação para o emponderamento contra a integridade do outro. E que nos dias de hoje servem como denúncia para o linchamento virtual. Lacração e porque não, destruição da idoneidade das pessoas. 


Hoje o ser humano libera os piores das sensações e comportamentos, o ódio, a raiva, o sentimento mais doentio, o julgamento sem sequer ouvir a outra parte. Condenam sumariamente. Quem não se lembra da eliminação da BBB, Carol Konka.

Os programas reality como BBB, a Fazenda, e outros, não refletem apenas o sentimento de ódio. Eles funcionam para que o sujeito coloque em prática a sensação de poder em condenar ou linchar outros indivíduos.



Na TV, o que mais tem audiência são programas de teor policial, fofoca e reportagem de debates políticos. Um país que tem transmissões oferecidos pelos poderes Judiciário, Senado e Câmara, e que são assistidos em tempo real por um número de audiência muito grande, não reflete maturidade, pelo contrário, demonstra a vontade de conferir aquele linchamento, principalmente quando um dos poderes exibe sua vocação para uma radicalização no exercício de sua atividade. Estamos no período do exagero. Construindo uma trilha anti-constitucional, já que as decisões são monocráticas e não colegiadas. Atitudes que contribuem para que outros façam o mesmo nas redes sociais. Que seguem impunes com os seus feitos.


No congresso os políticos cedem a corrupção por verbas oferecidas vergonhosamente para aceitarem os desejos de um grupo político. Essas compras de votos, ensejam a sociedade a fazer o mesmo. Imoralidade descarada contribuindo para a impunidade geral e irrestrita. Essa chaga leva uma sociedade a perda dos valores morais, ou seja, como o diabo gosta, nas palavras de um avô, vindo de outro país e constatando a derrota moral de um país que ele escolheu como novo mundo, quando saiu do Líbano para vir ao Brasil no início do século 20. Ele dizia, com sotaque árabe. Este país é uma maravilha. Terra onde tudo é lindo. Tudo que se planta, floresce e cresce. Trabalhando se conquista a sobrevivência e o progresso. Ele, inicialmente como imigrante, se tornou mascate, e mais tarde montou uma grande família com a esposa. Tiveram três filhos homens. Um dos quais, meu pai. Ensinou a todos o respeito e a disciplina moral. Montou uma loja de calçados, moradias pra cada herdeiro e nos deixou virtudes e princípios. Mas também deixou um alerta. O Brasil é maravilhoso, mas o povinho não é digno do que Deus nos brindou. Convenhamos que parte desse povo, não é merecedor do nosso respeito. 


Atualmente vemos um desfile do comportamento odioso nas pessoas. É uma vibração nociva no firmamento. A magnitude dessa onda é descomunal. Todos estão afetados. Um comportamento diário, basta ver como estamos condenando a tudo e todos. Ódio racial, ódio religioso, ódio social, ódio político, ódio sexual, ódio pelo ódio. Linchamento. Cancelamento. Sangrento. Crueldade. Tudo que podemos atribuir como mazelas de um povo sem formação humanitária.


Outro dia vi um apresentador de TV num programa de notícias policiais aplaudindo uma vítima que havia matado o assaltante. É esse o nosso sentimento? O revide? Ao estilo da “Lei do Talião”? Dente por dente. Para onde estamos caminhando? É a aplicação da tese “o fim justifica os meios”?

Assim caminha a sociedade em tempos de vulgarização do comportamento social, regido pelas redes sociais, política da impunidade, da conivência com a distorção dos valores morais. Inversão das faculdades  tradicionais do respeito às leis naturais. Quer das lei dos homens, quer das divinas.

Adoção de comportamentos intolerantes, do pré-julgamento sumário, inconformismo generalizado, insatisfação geral e irrestrita. Pobre do país onde os ignorantes tem o poder nas mãos. Somos governados pelas emoções, daí a nossa aversão ao determinismo da racionalidade. Não respeitamos as leis. Ignoramos tudo e vem o desrespeito extremo. Isso nos torna irresponsáveis, deploráveis e imorais. Irremediavelmente indomáveis. Formamos uma sociedade de deliquentes morais. Somos avessos a naturalidade. Invertemos tudo em troca de um comportamento distópico, caótico, poder pelo poder e anárquico. 

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