sábado, 11 de fevereiro de 2023

Espetar ou aproximar?


Espetar ou aproximar?

Em pleno despertar da AI (inteligência artificial) ainda ouço quando vou pagar algo com cartão. -Aproximação ou introduzir? Às vezes, falam o termo chulo, “enfiar”, acho horrível. 


Mas o mais interessante é o que se passa aqui na cabeça de um setentão. Como sou geração Babyboomer não havia como ser um profissional habituado com a tecnologia de informação. Quando essa nova ferramenta começou a engatinhar, eu já estava com mais de 35 anos. Os computadores que cheguei a utilizar eram os de tela verde, 8 Bits, 16 MG de memória…Lembram-se do 386? Hoje, aposentado, afastado da correria do trabalho, vou ficando defasado dos avanços tecnológicos. Uso o smartphone, leio sobre esses avanços e só, quase um outsider. Outro dia, visitando uma loja de equipamentos eletrônicos, me deparei com um notebook e ao ver um modelo, levei um susto em notar uma tecla verde no meio do teclado. Me senti um verdadeiro peixe fora d’água ou se quiserem, um dinossauro. Esse mundo é terrivelmente segregador. Não tem perdão. 


Embora esteja fora por desejo próprio, minha opção de ficar neste período sabático  mais longo é totalmente consciente. Meu momento é estar plenamente cuidando e exercitando um outro tipo de desenvolvimento, o espiritual. Totalmente desapegado de bens e atividades que exigem viver num mundo materialista. Sem aquela guerra corporativista. Concorrência entre colaboradores, intrigas fomentando a desunião, um verdadeiro clima maquiavélico, fomentado pelos sócios das empresas. Dividir para governar.


Hoje com o clima social pregando o ódio, o stalker, o bullying, cancelamento, num verdadeiro império do lacre, fico mais ciente da minha decisão de me afastar da política, do trabalho funcional em empresas, entidades corporativas e associativas. 

E me lembro, mesmo no trabalho, nos anos 2010, eu sempre levantei a bandeira, mais analógico do que digital. É claro, fui massacrado. Ninguém aceitava o passo atrás, queriam ultrapassar a tudo custo. 

A guerra era muito feia. Tipo três mosqueteiros contra tudo e todos. Eu só queria que o processo fosse mais lento. 



Agora passada uma década só falamos em comunicação da inteligência artificial. Será o império do saber nas nuvens. Pergunta rasa e pronta resposta. A experiência do saber adquirido, o legado, vai se esvaindo. Bebês utilizando o tablete, mas sem o afeto dos pais, do ensinamento dos primeiros passos e resultado mais demorado, trocou-se a administração pelo raciocínio rápido, porém se conhecer a raiz da semiologia. Fala-se da rapidez do ato, mas esquecendo da verdadeira razão original.


Quando o jogador americano, Lebron James se tornava o maior pontuador da NBA, nenhuma das pessoas presentes na arena,  com a chance de ver a História acontecendo em frente a seus olhos simplesmente desfrutando o momento. Quase todos estavam focados em filmar para gravar o momento. Quando Pelé foi marcar o milésimo gol, em 1969, só havia fotógrafos credenciados para registrar tal fato. Mudança dos tempos. A tecnologia muda os hábitos e comportamentos. Perder o momento mágico para se perpetuar em uma self. Não consigo entender. Eu vi na TV o milésimo gol. E este momento está perpetuado em minha memória, isso eu curto.


A tecnologia que inventou a ferramenta do toque (touch screen) é uma tela sensível ao toque que funciona quando é pressionada. Com ela, não se usam outros aparelhos como mouse ou teclado em computadores, por exemplo. É a própria inversão de valores do toque, aquele ato puramente pessoal, onde o tato arrepiava o jovem adolescente. 


Essa tecnologia que proporciona a fotos instantâneas, também vulgariza os melhores momentos. Tudo fica automatizado. Acabou o fervor de ver aqueles momentos registrados numa câmera e depois de levarmos os filmes nos laboratórios dos shoppings, voltar na semana seguinte para curtir aqueles momentos. Acredito que aquela alegria é bem maior do que o singelo olhar no arquivo do aplicativo. 


E o sistema NFC (Near Field Communication) é uma tecnologia de comunicação sem fio presente em diversos celulares. A aproximação é o primeiro passo para o abraço, coisa analógica muito em falta em tempos atuais. Mas a outra aproximação, a do cartão de pagamento atingindo a maquininha, essa é usada em demasia. O que enseja a rapidez, pode nos levar às fraudes, principalmente para os setentões como eu, já que os idosos, analfabeto digitais não compreendem esses avanços tecnológicos. Todo cuidado é pouco. 


Portanto, finalmente vemos situações normais do toque e aproximação nos casos da origem dos atos, coisa genuinamente analógica, fisiológica e humana, que tiveram suas versões digitais, proporcionando justamente o contrário do original. Se olharmos no futuro, talvez por um registro tipo, cápsula do tempo, veremos a tamanha dicotomia que a tecnologia fez com o comportamento social dos costumes dos humanos. Desde o afastamento dos mais velhos, que por falta de ensino, treinamento e acesso ao conhecimento digital, priorizou educar as futuras gerações. Concordo com o ciclo da vida. Aceito que as nações, principalmente os tigres asiáticos que optaram por esse caminho, oferecendo aos mais jovens as ferramentas do futuro. Mas segregar os mais velhos, que ainda decidiam pelos caminhos de boa parte do trabalho, foi covardia. Notinha de rodapé: De acordo com o CEO da Cisco Systems, pelo menos 40% de todos os negócios desaparecerão nos próximos 10 anos se não se adaptarem às novas tecnologias. 


Devemos nos lembrar do que Heinrich Pestalozzi dizia: segundo ele, o processo educativo deveria englobar três dimensões humanas, identificadas com a cabeça, a mão e o coração. O objetivo final do aprendizado deveria ser uma formação também tripla: intelectual, física e moral. Sou um ser espírita, acredito na evolução, acredito na reencarnação e sei que de uma outra maneira voltaremos, e o legado de uma vida, retorna naquele novo corpo. E aí segue a nossa caminhada entre várias sucessões de vidas. Talvez até, aparece um outro Steve Jobs, e o mundo será novamente surpreendido. Por que não? Prefiro ficar com a minha inteligência emocional, pelo menos enquanto viver. Você concorda comigo? Você velho, você adulto ou você, jovem adolescente.

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