segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Você teria coragem de divulgar algo contrário aos seus princípios?

Criativo ou criativoso? Eficiente ou papa prêmios?

Quando entrei na sala de aula nos primeiros dias de ESP (ainda), virou ESPM logo depois, assisti a uma aula, não sei se magna ou como convidado de algum professor amigo, Roberto Duailibi, o D da DPZ,  num clima de total hipnotismo e sedução dos tietes, disse alto e em bom som, que nós alunos de propaganda, deveríamos escolher a conduta a seguir. Todos queriam ser criativos ou inventores, afinal, naquela época a profissão de publicitário era charmosa, gostosa, bem remunerada, disputada, e se fosse diretor de arte ou de redação, então...até comia as meninas mais gostosas da aula e da empresa (...brincadeira). Me lembro que o bio tipo era cabeludo, barbudo, calça de sarja, tênis Rainha, camisa xadrez, iguais as de Tommy Hilfiger e Ralph Lauren de hoje. Na ocasião, a camisa e a calça eram da Levi's ou Lee. Os carros podiam ser os nacionais como o SP1-VW, Aero-Willys, Interlagos ou Puma, também alguns importados como Porsche, Mustang da Ford ou Camaro da GM-Chevrolet. Sapatos de couro, também na sola, fabricados em Franca, interior de São Paulo. Se viesse com um Vulcabrás, era ignorado, pois era popular demais. 
Divulgação
As sandálias Havaianas ainda não eram moda, mas lá estavam. Um calçado de corda e tecido de brim bem rústico chamado de Alpargatas, confundindo o nome com o produto, coisas de antigamente, tanto que as lâminas de barbear ficaram conhecidas como Gillette. Mas tarde, gilete virou sinônimo pejorativo de quem cortava dos dois lados, isto sexualmente falando. Pois então, nesse período que ainda se encontrava à venda calças Farwest, creme dental Kolynos ou Gessy, creme para os cabelos chamados de Glostora ou Brylcreem, pilhas Ray-O-vac ou Eveready, baterias Heliar e Saturno, gasolinas Esso e Texaco, além da Shell, das bebidas tipo refrigerantes Crush (de laranja), Grapette (de uva), Cerejinha e Seven Up, além da Coca-Cola e Pepsi-Cola as mais consumidas, digladiando com o guaraná Antarctica do Teobaldo Boko Moko, curti o clima de poesia no mundo da publicidade. Professores como Mário Chamie, que mais tarde virou narrador do programa 50 por 1 de Álvaro Garnero. Valdemar Lieschtenfels (JWT), José Roberto Whitaker Penteado, Otávio Florisbal (homem forte das Organizações Globo), Luiz Celso de Piratininga (Adag), Francisco Gracioso e Altino João de Barros (MCannErickson), Petrônio Correia (MPM), Neil Ferreira, Francesc Petit, Gehard Wilda, Paulo Nascimento, e muitos outros, que mais eram profissionais da publicidade do que mestres. Convivi e vivi este mundo perfeito. Talentos não faltavam, mentes brilhantes. Época áurea da nossa propaganda. Alex Perissinoto, Márcio, Zaragosa, Agnelo, Ênio, Júlio, Alonso, Mauro Salles, monstros sagrados. Aprendi nesse período que o compromisso era com a verdade, informações brifadas com altíssima técnica, o resultado era o perfeito casamento com a informação verdadeira e lapidada na base da excelente criatividade que todos esbanjavam, até transbordar. Nasceu logo depois o Conar e a APP. Era para dar normas e corrigir condutas desviadas. Funcionava? Nem era preciso, não haviam transgressões. Acabaram os talentosos, morreram os perfeccionistas ou se retiraram no cruel destino de todos, a velhice ou talvez a morte, mesmo ficando a sabedoria, foram todos substituídos através de discípulos, herdeiros ou aventureiros. No convívio ainda entre as gerações, vimos um Washington Olivetto, Nizan Guanaes, Duda Mendonça, se revelarem e seguirem com voos próprios a carreira solo. 
Veio a tecnologia e a meninada. Os tais geninhos com os dedos rápidos. A criatividade acima de tudo. Vamos fazer um trabalho digno de ser premiado. Cannes, Clio e outros por aí fora. Festival disso e aquilo. Mas e a eficiência? O cliente satisfeito com os resultados dos investimentos? E o pior de todos os cenários. O que se veicula condiz com a promessa de que o produto funciona? Será? Os anúncios da VIVO mostram um tema e uma linguagem linda, bucólica, envolvente, mas o 4G não funciona! 

Reprodução

E aí? Tem algum órgão que fiscaliza ou questiona? O Conar só tira do ar se é algo imoral, mas, imoral nos bons costumes da sociedade. E enrolar, não entregar o que foi prometido também não é imoral? Promessas de entregas e as expectativas não condizem. Fazer os filmes de campanhas eleitorais com mentiras deslavadas, agressões aos adversários políticos, não é imoral? Por que o Conar não se manifesta? Vivemos numa sociedade em que primeiro se faz o estrago, depois se for necessário e havendo a punição, corre-se para consertar. Porém neste interregno, a vaca foi pro brejo. Como evitar isso? Sendo aquele profissional coerente e de formação descente. Comprometido com a verdade e os dados. Não buscar a linha tênue de na dúvida, usar de artimanhas criativosas e pegadinhas manipuladas. 
Divulgação
Tive a minha passagem em algumas universidades e lecionei para todas as áreas da Comunicação Social, publicitários, jornalistas e relações públicas. Quando um colega professor faltava, juntávamos as classes, pois o período era divido, mas eu não nunca consegui a adesão dos jornalistas em ficarem juntos dos publicitários, eram ideologicamente não-misturáveis, mal sabíamos que eles lá atrás, me sinalizavam que as coisas não iriam dar certo. Hoje vejo claramente essa dicotomia. E o pior de tudo, eu concordo com eles. Temos hoje nessas duas áreas, profissionais e profissionais, gente de estirpe, capacidade e ombridade e de outro lado, um bando de picaretas a serviço da indecência e publicando inverdades perigosas, que na base da manipulação, acabam afetando profundamente os destinos deste país. Tenho vergonha de colegas e profissionais desse calibre. Deveria ter seguido o Direito, pelo menos, gostaria de denunciar, acusar e condenar alguns miseráveis que são paparicados e festejados ao final de uma campanha eleitoral ou de produtos.  

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