quarta-feira, 2 de julho de 2014

Seis anos de saudades, querido pai.

Há seis anos atrás Deus chamou o meu velho para cuidar do trânsito lá no céu.

O meu exemplo de vida, de retidão, completa hoje seis anos que partiu. Com os já bem vividos 86 anos, nem completou os 87 que faria cinco dias após, sete de julho. Um dia antes me ligava e dizia estar passando mal e que seria internado na Santa Casa de São José do Rio Preto. Peguei o avião no mesmo dia e rumei desesperado para minha casa em Rio Preto. No horário em que cheguei não havia mais permissão para visitas, já que se encontrava na UTI. Não dormi. Vi um filme passar na minha cabeça. Como poderia aquele homem exemplar cair doente? Me perguntava. Não estamos preparados para assistir os nossos entes queridos se irem para outra dimensão. Há pouco mais de oito meses, meu querido irmão Hatim Júnior falecera. Já havia sido um baque para todos nós. Por que meu querido pai também iria? Os céus estavam carentes de pessoas íntegras? As pessoas boas partem mais cedo, e os ruins ficam, conforme diz o dito espanhol. Confesso, muita coisa passou em minha cabeça. Chega a manhãzinha, dou apoio à minha mãe inconformada, choramos juntos, tomo meu café e sigo acelerado para o hospital que ficava alguns quarteirões da nossa moradia. Lá chegando, busco meu velho. No caminho uma pessoa conhecida me interrompe e diz: – Jorginho, seu pai não está bem. Informação fatal, já me quebrava as pernas antes de chegar até a UTI. Chego lá, vejo o meu pai deitado. Nos abraçamos e chorei copiosamente. Ele me acalma e pede que traga um copo de guaraná! Digo: – Pai, aqui não pode, pego um copo de água com a ajuda de uma enfermeira. Dou a ele e pergunto com está se sentindo? – Estou bem, meu filho. Chamo a médica e peço mais informações. E que segundo ela meu pai está seriamente com problemas respiratórios e que estava com uma pequena hemorragia nos pulmões, mas que estavam cuidando e parecia ficar estável e controlada. Acaba o horário de visitas à UTI. Pedem que eu saia e que volte à tarde. Retorno para casa e falo com a minha mãe. Aguardemos a tardinha. Mas o telefone toca sem cara de boas notícias. No silencio de nossa casa, calados e orando mentalmente, aquele "prim" parecia fatídico. Era a minha vizinha, Regina dizendo que iria me levar até o hospital, passaria com seu carro e juntos rumaríamos para lá. Algo me dizia em minha cabeça que questionava, o horário de visita não é esse! Fé em Deus, vamos lá. Entramos e faço o mesmo caminho da manhã, nada de pessoas, tudo vazio. Paro na UTI! Papai não está lá. Vem uma médica e diz laconicamente. – Seu pai entrou em óbito, sr. Jorge. De repente o mundo parou. Fiquei sem chão. Não acreditava nas palavras da médica. Sento-me e fico sem respiração. A minha amiga me ampara e com a experiência de ter perdido os seus pais e tios, me diz palavras de consolo. Volto titubeante e penso como falar e dar a notícia para minha mãe, ainda em recuperação pela perda do filho mais velho há menos de oito meses atrás. 
Como enfrentar o processo do funeral e documentação para o  velório e enterro no cemitério municipal? Haja força mental e suporte físico. Papai tinha deixado tudo arrumado, a burocracia ficou em escolher que tipo de caixão, flores e local para que fosse devidamente colocado. Como fazer a derradeira homenagem a aquele homem público? Deixara um legado para a cidade onde foi político e esportista, atuou como vereador, participou da fundação dos dois maiores clubes da cidade, foi o diretor de trânsito inovador que instalou os semáforos e os taxímetros nos carros particulares da cidade. Se orgulhava de ter uma frota só de carros novos e de quatro portas para os passageiros terem maior conforto. Trabalhou na Prefeitura até se aposentar. 
Era referência em memória dos fatos mais importantes da cidade. Ajudou a escrever a história da cidade nos livros dos acadêmicos e historiadores, que faziam peregrinação quase que mensais em nossa casa, pedindo ajuda para lembrar disso ou aquilo, levavam fotos para que ele informasse os nomes, locais e datas. Um homem público que mereceu ser velado na Câmara Municipal com as bandeiras dos clubes e da cidade sobre seu caixão. Políticos e vereadores antigos, os atuais, o prefeito e vice, ex-funcionários da Prefeitura, vi todos passarem ao lado do caixão e ouvi palavras de respeito pelo homem, cidadão, político, pai de família que foi. Se algo pudesse ser extraído desse dia, foi a importância relevante de meu pai que nos confortou, a cidade que tanto ele, amava se rendia e chorava com ele. Meu pai foi honrado por todos. Ele não tinha inimigos. Os poucos que eram, na política, deixaram de lado a simpatia ou ideologia e marcava presença no plenário da Câmara e ao pararem ao lado do caixão, referenciavam à aquela pessoa que mostrou altivez na vida pública. Meu pai me deixou emocionado naquele dia. O cortejo foi rápido, pois a Câmara ficava ao lado do Cemitério e lá enterramos o nosso pai. Desde este dia, não deixou de lembrar dele. Quando fico com a minha mãe, vasculho todos os álbuns com fotos. Quando fazemos um tipo de comida, lá está a presença dele. Quando comemoramos algumas datas como Páscoa, aniversário de minha mãe, no Dia dos Pais, nas festas de final de ano. Lá está o "seo Rett" juntinho com a gente. E hoje da mesma forma. Neste momento estou escrevendo com algumas lágrimas no rosto. Mas de felicidade, pois sua lembrança nos causa satisfação. Seu exemplo está aqui perene e viverá enquanto eu estiver com você, meu pai. Te amo demais. Você está vivo em minhas lembranças. Sempre viverá, pai querido. Caminharei daqui em poucas horas para a igreja próxima daqui de casa. Pedirei mais uma vez orações em sua memória. Pai fique com Deus. 



Nenhum comentário:

Postar um comentário