terça-feira, 1 de julho de 2014

30 dias. Que sufoco!

Minhas queridas filhas, Nadine e Micaela.
30 dias.
Já se passam 720 horas ou 43.200 minutos que passei por duas cirurgias simultâneas no Hospital São Camilo da região da Pompéia, zona oeste em São Paulo. Foram 30 dias de total repouso, controle do sistema urinário, dois exames nesse período, dois retornos ao médico dr. Jorge Nudel. Mas esse período foi um teste de paciência, dedicação e ao mesmo tempo, um período em que solidariedade e atenção de pessoas generosas, como a minha cunhada Teresa Escher. Quis Deus que nesse período eu tivesse que ficar em repouso no mesmo período em que minha esposa se convalesce de um tratamento longo e que também precisa de atenções e cuidados médicos. Seu tratamento entra no quinto mês, enquanto eu acabo de sair. apesar dessa alta (o médico ainda não me liberou), ainda estou limitado para executar esforços, dirigir o carro, carregar peso, etc... 
Me sinto bem. Ufa, 30 dias que sufoco. A Copa do Mundo veio para que em certos momentos, eu esquecesse das agruras, dos sustos, afinal a cada ida ao banheiro as atenções eram acompanhadas de medo, preocupação e sentimento de vitória. Bastava não sair urina avermelhada, com sangue ou coágulos, era o meu momento de gol, de felicidade, de grito abafado de uma conquista atrás de outra, e isso a cada 20 minutos ou meia hora. 
Nunca bebi tanta água em minha vida. É claro que nunca fiquei permanentemente no toalete. 24 horas com idas ao banheiro a cada 30 minutos não é mole. E nas madrugadas também, um sono truncado como as defesas das seleções que deram trabalho para as equipes favoritas. Ainda bem que tive a ajuda dos jogos, dos programas de comentaristas de futebol pelas noites afora. Foram dias de muita apreensão. Segundo o médico, muitos casos, se houvesse hemorragia, deveria retornar urgentemente ao hospital. Enquanto a nossa seleção fazia muitos torcedores irem aos centros médicos pelo sufoco que passavam, eu ia me controlando, ansioso a cada ida ao banheiro. E em muitas vezes, não tive sucesso, pois alguns poucos coágulos insistiam em me preocupar. Era o vermelho que eu não gostava, queria que fosse apenas o amarelinho, na seleção e no sanitário. Comidas com tempero forte, apimentadas, frutas cítricas, refrigerantes com gás, bebidas alcoólicas, tudo era proibido. Afinal eu iria comer o quê? Lá vinha a Teresa perguntar: – Salim, o que você quer comer hoje? Nada que travasse o meu intestino, pois o esforço que fizesse, poria a região da cirurgia em crise. Nada de esforço, lembrava que o médico havia alertado. E a comida realmente foi a de que chamamos de hospital. Purê de cenoura, mandioquinha, carne moída sem quase nada de tempero e arroz. Feijão? Não pode. Que luta, gente. Mas chegamos aos 30 dias. Será que agora posso comer feijoada? Carne de porco? Tudo leva a crer que daqui pra frente, tudo vai ser diferente. Mas uma coisa é fato. Beber água, sempre. A Copa está acabando, a vida está voltando a normalidade, poderei sair de casa, andar um pouco mais, enfim ser uma pessoa normal de novo, um cidadão livre, por enquanto. Não via a hora de voltar a sair, ter uma vida normal, comer e beber, trabalhar... 
Que 30 dias inesquecíveis! Ganhe quem ganhar nessa Copa do Mundo. Mas uma coisa eu digo, quem venceu? Fui eu. Obrigado meu Deus.  

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