quarta-feira, 23 de abril de 2014

Um homem predestinado em salvar vidas.

Um homem que salva vidas como médico, salvou o meu irmão de uma morte que não era sua especialidade. 
Domingo Marcolino Braile, consagrado médico cardiologista rio-pretense, com sobrenome nobre, "braile" é um sistema de leitura com o tato para cegos inventado pelo francês Louis Braille no ano de 1827 em Paris. Médico pesquisador, filósofo, professor, empresário, humanista, vou parar por aqui porque seu currículo é fantástico. Mas quero resumir em apenas um substantivo próprio, masculino singular: santo.
Há muitos anos atrás, creio que seria na década dos 80. Todos nós, como de costume, fomos ao rancho do Tio Maquininha na fronteira entre os estados de S. Paulo e Minas Gerais, tanto que a cidade chama-se Fronteira, terra famosa e conhecida pelos interioranos daquela região, pois possui duas grandes obras. A Usina hidrelétrica do Marimbondo, barragem das águas do Rio Grande, que separa os dois estados e a estátua do Bernardão. Estavam todos comendo e bebendo, pois de pescaria nada se fazia, era muito raro. A farra era o programa principal. Serem felizes não importava quem perdia no truco, era o lema. Vivi muito isso. Os amigos de meu pai sempre foram movidos a festas, churrascada, chopada, jogo de bocha, discursos e muitas estórias dos clubes, onde a maioria já havia passado pelas ostes dos clubes como Rio Preto, Palestra e Ameriquinha. 
 
Meu irmão Hatim Jr., eu (Jorge) e o Vinicius.
Meu irmão não bebia álcool e não gostava de muita farra, super reservado nos acompanhava e ficava isolado num canto com poucos amigos que realmente o compreendiam, um deles o saudoso Vinicius Cucolichio. Lá pelas tantas meu pai deu pela falta do filho mais velho, o Hatim Jr. Me procura e pergunta por onde anda o meu irmão. Digo que não estava com ele por perto, fazia outras coisas, já que o rancho era enorme e sua extensão ia até às margens do Rio Grande, bem abaixo das barragens. É soado o alarme, todos param e seguem em busca de meu irmão. Já estava caindo a tardinha, o silencio imperava, onde se ouvia os pássaros e as cigarras. Também é hora de alguns predadores saírem à caça. Meia hora, quarenta e cinco minutos e chega a uma hora, nada. Caia a tarde. Alguém acaba descendo o barranco e encontra um homem amparando o nosso irmão. Ambos sujos de barro, molhados e próximos da margem difícil de se escalar. Os corajosos ou desesperados, diria eu, vão ao encontro deles. E o nosso médico diz: – Vi esse rapaz cair de lá de cima e corri, cheguei em tempo, pois ele estava sem sentidos. Poderia ter morrido afogado. Aqui cabe uma explicação, meu irmão sofria de epilepsia e após ter tido uma convulsão por febre alta quando era guri aos 11 anos de idade, tinha os desmaios imprevisíveis, sem controle, apesar de tomar medicamentos diários para controlar o mal. E isso provavelmente ocorreu e ele caiu barranco abaixo. O Dr. Braile, a quem chamo de santo, estava por lá e socorreu meu irmão e impediu que ele falecesse. Agradecemos naquele momento e ficamos eternamente gratos. Voltamos para o rancho, tudo se encerrou antes do tempo e voltamos para casa em S. J. do Rio Preto. Passados estes anos todos. Papai e meu irmão, hoje estão juntos lá no céu. E eu aqui me rendo mais uma vez, e louvo esse homem santo que salva os cardíacos com suas invenções conhecidas como prótese valvular, enxertos arteriais tubulares e anéis valvares, e que também salvou uma pessoa, sem estar na sala de cirurgia, seu habitat profissional. Longa vida, dr. Braile. Obrigado mais uma vez.  


Turma dos amigos leais
Estátua do Bernardão em Fronteira, MG.

Frase de sabedoria do "Pensamentos do Dr. Braile sobre a Medicina".
Somos médicos e devemos nos orgulhar de nossa profissão. Tais palavras podem soar vazias no contexto dos dias atuais, mas devem ser resgatadas, não só para a valorização da nossa profissão, como também para a segurança da Sociedade. O conceito moderno de saúde é o perfeito bem-estar físico, psíquico e social da comunidade. No centro da constelação, responsável pelo funcionamento harmônico do sistema, está o médico. Não o médico mercenário, indiferente, simples operador de máquinas, mas o médico humano, caridoso, carinhoso, competente e líder por excelência. Assim devemos ver e sentir a nossa profissão. Não somos frutos apenas de estudos especializados, mas de uma vocação que devemos seguir de forma simples e voluntária. O verdadeiro médico sempre existiu. Ele já nasce médico. Com o progresso tecnológico, simplesmente foi possível aperfeiçoá-lo.


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