quinta-feira, 27 de março de 2014

De noite e dia, viva a boemia.

Região fervilhante da Major Sertório, local onde trabalhei os últimos 13 anos.
De dia trabalho, de noite boemia. Os bons tempos não voltam mais. A região ficou tomada por drogados e prostituição. Às vezes, durante o dia já cruzamos com os "nóias", expulsos da região da cracolândia na antiga rodoviária e que acabaram ficando no cruzamento da rua Bento Freitas e Major Sertório.
Antes, bem antes, nos anos 70/80, a região era conhecida pelas boates, onde transformistas e travestis cruzavam de um lado para o outro. 
Hoje restam apenas os prédios que outrora eram frequentados pelos estudantes e boêmios.
A nata dos inferninhos, com muitos atrativos como shows de travestis e performances de clones de Carmem Miranda, Maria Alcina, Elke Maravilha, Virginia Lane, e outros astros do show biz. A rua teve o templo da sedução, La Licorne. Precursora de templos sodomistas de hoje como Bahamas, Milenniun, Conection espalhados em várias regiões em Sampa...
Tinha até o London Tavern (foto), pub sensacional no subsolo do Hilton Hotel, quando este ficava na esquina da avenida Ipiranga com a rua Epitácio Pessoa, na década dos anos 80. Hoje lacrado pelos desembargadores que no prédio circular tem os seus gabinetes para os despachos.
O bar Redondo, que virou uma lanchonete de terceira categoria. E o que resta de poético? Apenas a casa das casas, o lendário Love Story. Me lembro que nos anos 2000 todas as vezes que vinhamos bem cedo para reuniões de capacitação ou treinamento, deparávamos com as moças de fino trato e vigiadas pelos gigolôs.
Tinha um colega de trabalho, vou manter o anônimato, dizia "aqui a gente pode contrair alguma doença por contato simples, pega escorbuto". Ele fugia da garagem onde deixávamos os carros estacionados. Muitos anos depois, a pedidos insistentes, a administração do nosso edifício abriu um atalho através de catraca eletrônica no primeiro andar direto para os elevadores nos levando aos andares superiores, evitando assim de contornarmos a esquina do pecado e escapar do contágio.
Pois é, isso quando não se via um "presunto" na entrada/saída do estacionamento. Pelo menos três mortos nesses 12 anos e pouco que frequentamos o local. Brigas e quebra-pau nem se conta. É o “ó do borogodó”, dizia minha assistente Simone, que ficou horrorizada vendo da janela do prédio na nossa frente, um cidadão nu, gritando "– Eu tô peladuuuuu....."
Não podemos nos esquecer das ditas boates de hoje que é frequentada por nóias e desocupados a procura ou vendas de drogas, prostituição que acabam fazendo desta região um local perigoso para as pessoas e nossas funcionárias que são abordadas e assaltadas sempre, perdendo seus aparelhos celulares. São incontáveis as queixas. Segurança aqui é um lixo, literalmente estamos aos olhares da lei e do abandono. Apesar de tudo, vivemos e convivemos com estes contrastes da vida urbana do centro de S. Paulo.
Como diria o Gugu, "Viva a Noite". Ou como diria uns amigos meus, viva a putaria. E os saudosistas dizem que é a pura decadência. 
Para encerrar, registro aqui duas músicas que ilustram bem essa nossa passagem pela região. Ronda de Paulo Vanzolini, "Bebendo com outras mulheres, rolando um dadinho, jogando bilhar, e neste dia, então, vai dar na primeira edição: Cena de sangue num bar da Avenida São João" e Sampa eternizada por Caetano Veloso, "Alguma coisa acontece no meu coração, que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João, é que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi, da dura poesia concreta de tuas esquinas, da deselegância discreta de tuas meninas..."

O local que era o Pub London Tavern, no antigo Hilton Hotel (primeiro círculo) e o Love Story mais abaixo, na rua Araújo (segundo círculo).

Nenhum comentário:

Postar um comentário