terça-feira, 11 de março de 2014

A escrita que virou coxinha.

 Antes
Depois.

A incrível estória do local onde se aprendia a arte da boa caligrafia que foi trocado pelas coxinhas, empadas, esfihas, sanduíches e refrigerantes. Mas antes vamos falar dessa tal profissão que resistiu ao preconceito, a modernidade e a era da tecnologia.

Caligrafia: é uma escrita manual, em que se destacam a beleza, a uniformidade e a elegância. O termo vem grego kallos (beleza) e graphos (escrita). Designa o produto dos calígrafos, profissionais da escrita manual, que realizaram muitos trabalhos na Europa, entre os séculos XVI e XIX. O primeiro manual de caligrafia data de 1.522, 22 anos após o descobrimento do Brasil. E que provavelmente caminharam juntos com os padres jesuítas que aportaram em países nos descobrimentos das Américas. No século XVI a caligrafia estava praticamente restrita a diplomas, títulos e correspondência diplomática, aplicações que até hoje permanecem. Quem não quer fazer os convites de casamentos com aquelas letras bonitas? E com ares de feitos especialmente, artesanalmente, denotando que são feitos um por um, destacando-se a ideia de atenção aos convidados. Mas isso nos dia de hoje é pouco para se preocupar em ensinar as pessoas. A tecnologia faz isso no lugar do calígrafo. Apostar na tradição e divulgá-la para o público como principal diferencial do empreendimento é fundamental para amealhar novos alunos para o curso de caligrafia e batalhar para a sobrevivência da profissão.
Enquanto isso, a cidade se degrada, prédios antigos são demolidos, dando espaço para a volúpia imobiliária, antigas edificações são engolidas por prédios comerciais e por aí vai.
Eu, como já disse outras vezes, sou um curioso contumaz, vivo olhando como um camaleão e notei, primeiro a casa com a placa de "Curso de Caligrafia", toda pichada pelos artistas (?) e sem o menor movimento, quer de alunos quer de pessoas interessadas em caligrafia.
Tirei a primeira foto para guardar. Pensei? Num dia desses isso vai dar uma estória. E não é que deu! Prontamente vi a fachada ser alterada, colocaram uma testeira e uma placa informando que o local iria virar uma lanchonete. Nada mal. Ao lado temos um banco, em frente um ponto de ônibus, a entrada ao Parque da Água Branca e mais à direita uma universidade, a Uninove. Pensaria? Mais de milhares de frequentadores, funcionários e alunos, estes esfomeados de saber (?), chegariam com fome até às aulas. Será que iriam procurar algo para a melhorar a escrita ou algo para encher o bucho? Bingo! Uma lanchonete.
Comer e comer, beber e beber. Escrever bem não é prioridade do brasileiro. Isso nos dois sentidos. Quer gramaticalmente, quer na escrita, na caligrafia. Aliás o garrancho faz parte da nossa vida escolar e se perpetua até o dias de hoje, do primário ao universitário.
Vide as receitas dos médicos para não me deixarem mentir. Pois então, fica aqui o meu registro de que até as melhores escritas são engolidas literalmente. 
Nota de rodapé. 
A Família Di Franco, mudou-se e está em outro local, seguindo a tradição dos pioneiros. Já estão na terceira geração e pretendem continuar. Não vendendo coxinha, mas sim, ensinando o paulista a escrever bonito. Quem quiser saber mais, veja a página deles. Divulgá-los é o mínimo que posso fazer por estes batalhadores da escrita. Link: www.profdefranco.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário