domingo, 7 de agosto de 2022

O Jô que eu “quase” conheci.

Sei que a passagem do nosso querido gordo tenha provocado muitas milhares de citações e comentários sobre ele. Todos em sua maioria falam do seu talento e capacidade intelectual invejável. Suas criaturas criadas e executadas com maestria por ele. Mas o que eu vou relatar aqui foram poucas oportunidades de conhecê-lo pessoalmente. Faltou pouco para isso acontecer em cada oportunidade que estivemos mui próximos.

As poucas vezes foram na época dos anos 80/90. A primeira e que a mais vezes aconteceram foi quando ele morava no seu palacete no Ibirapuera à rua Bento de Andrade quase no finalzinho que dá acesso ao túnel da avenida Santo Amaro. Hoje, após sua demolição, é uma agência da banco Itaú que dá entrada pela avenida Brigadeiro Luís Antônio.


Na época ele era vizinho da empresa de marketing esportivo, Traffic, do empresário riopretense J. Hawila. Ambos se conheciam desde a rede Globo. O Hawila foi ligado ao setor de esportes e o Jô do entretenimento.

Muitas vezes o Jô saia de casa e à alguns metros de calçada chegava na Traffic agitando à todos. Subia até a sala do empresário e lá conversavam e entre um gole de drinks passavam a tarde num verdadeiro happy hour. Eu era prestador de serviços gráficos para a Traffic e ficava em salas bem ao fundo daquele enorme casarão. Portanto, ficava à metros daquela visita tão ilustre. Mas nunca pude trocar uma palavrinha com ele.


A segunda vez foi muito inesperada. Fui com minha primeira esposa, Regina num show do Jô no pudim, Anhembi, zona norte. Sentei-me com ela na primeira fila e próximo do palco. O show seguia com a performance hilária do comediante. Como é o caso de um show ao vivo, tudo pode acontecer. Lá pelas tantas após uma sequência de piadas, minha companhia começou um ataque de risos e não conseguia parar a ponto do Jô interromper o seu show. Ele se sentou, ofereceu um copo d’água para e disse que gostaria de prosseguir, caso ela deixasse. E aí foi plateia que caiu na gargalhada. Se ela tivesse aceitado o copo d’água eu estaria bem próximo do Jô, seria a segunda vez, mas não troquei palavras com ele.


Outra oportunidade foi quando eu estava próximo de onde morava, na época do meu segundo casamento na Vila Clementino, próximo da avenida 23 de Maio, na rua Ascendino Reis, sobre o gramado (barranco), assistia com familiares e amigos à Parada do SBT, que percorria a 23 com as atrações do cast da TV do Silvio Santos. Muitos vinham com carros alegóricos caracterizados com os programas do SBT. A garotada ficava entusiasmada com a turma do Bozo, papai Papudo, vovó Mafalda, Salsi Fufu, Buzolinda e Kuki. Deliravam com a turma do Chaves. Mas eram bonecos. E a equipe de novelas, programas infantis e os comediantes do Programa Veja o Gordo. E o Jô para ser diferente aparecia pilotando sua moto. Aliás, foi pilotando essa moto que ele fraturou seus dois úmeros dificultando os movimentos de seus braços, notadamente quando ele não conseguia erguê-los e o afastou de fazer uso da moto e outras atividades físicas. Essa dificuldade era muito notada quando ele pedia para seu conjunto parar de tocar, seus movimentos com o braço era notado nas apresentações da TV. 


Pois então, voltando à Parada, enquanto acompanhávamos os carros alegóricos, o Jô serpenteava com a moto. Ele vestido todo de couro preto agitava os populares e a cada volta parava, descia da moto e saudava aquele pessoal em frente. E uma dessas horas, ele parou bem na nossa frente, ficamos bem próximos e nos saudamos mutuamente, porém nada além deste momento. E pela terceira vez ficamos no quase. 



E o tempo foi passando. Ver o Jô só através da telinha. Passou o Jô Onze e Meia, mas que verdade sempre ia ao ar depois mais meia do que o onze, após a Meia Noite, e avançava a madrugada quase sempre. Depois veio a história do politicamente correto. Foram sendo assassinados sumariamente, o capitão Gay, o padre Carmelo, o Tavares, pai de um filho afeminado, o Reizinho, o dentista que assediava as mulheres com a expressão “Bocão”, o bullying com o anão, “só porque sou pequenininho”. Personagens neutros como o funcionário público, Evaristo (não me comprometa), o argentino Gardelon,  muy amigo, o puxa-saco Múcio, que concordava sempre com a pessoa da última fala, a vovó Naná, sempre assanhada, o bebum Bianor, o bombeiro careca, o guerrilheiro, o mafioso, o general hospitalizado que pedia pra tirar o tubo, e outros mais que hoje não sobreviveriam aos haters e que provavelmente seriam cancelados pelas redes sociais. Sabiamente Jô, parou com essa plêiade e migrou para o talk show.


Não cheguei a conhecer o José Eugênio Soares pessoalmente por pouco detalhes, já o Jô, comediante e criador de uma centena de personagens, conheci muito bem. Apesar de não ter aprovado muitos, principalmente os que ele se travestia de mulher. Mas a arte da comédia é imitar a vida, e a vida tem essa dualidade muito acentuada, até a diversidade que aumentou o espectro, coisa que o psicólogo Jô Soares compreendia muito bem. O Jô Soares, escritor também fez parte da minha cabeceira com alguns livros como O homem que matou Getúlio Vargas e O Xangô de Baker Street. Dois romances que subvertem a realidade e introduzem o humor na história mostrando a mistura da ficção e explicando fatos de maneira criativa e surreal. Outra coisa que não perdia, já que fui seu ouvinte fiel, principalmente no carro, era do seu programa radiofônico Jazz Session na Eldorado FM. Marcas registradas deste ser chamado de Jô, que insisto em dizer que “quase” conheci. 

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