sábado, 10 de novembro de 2018

Legado de pai para filhos. Algumas curiosidades de viagens.

“Claro, assim eu pude ensinar a elas tudo o que eu sabia”. 
Começo este post desse jeito, após conversar com alguns amigos, que temeram pelas viagens de minhas queridas filhas, sem a minha presença. Eu explicava sobre as viagens que as duas, Nadine (28) e Micaela (20), fizeram em 2017. Uma, em julho aos países andinos, mochilando e se hospedando em albergues, e mais tarde, a outra, indo para Europa (Alemanha, Suíça, Franca e Bélgica) em outubro. 
Viagens estas que fizeram sozinhas. Pelo primeira vez sem o pai no comando. 
É claro que monitoradas pela tecnologia que nos proporciona as Redes Sociais, aplicativos de localização, conversas por vídeo, áudio, enfim tudo a mão para nos deixar bem tranquilos.

Embora já tivessem viajado aqui pelo Brasil, porém foram viagens de escolas e feitas em grupo de alunos. Porto Seguro, Brotas, Sales, Chapadas, Rio de Janeiro, etc.
Mas lembrando sobre este assunto, acabei voltando ao tempo passado. 
Estamos em 1961, mês chuvoso de janeiro em S. Paulo, capital. Lembro ainda que assisti pelo rádio uma grande vitória do boxeador brasileiro, Éder Jofre, se tornando campeão mundial unificado, naquele dia. Eu, um guri com apenas dez anos acompanhava meu falecido pai, Hatim, junto com minha mãe, Odete e meu saudoso irmão, Hatim Jr.
Frente do hotel República, ex Amazonas. (Reprodução do Google Maps)
Estávamos hospedados no Hotel Amazonas, na av. Vieira de Carvalho, no Arouche. O hotel existe até hoje, à frente tem uma estátua de um índio, talvez fosse a razão do nome do hotel, Amazonas, porém hoje possui um outro nome, creio que seja República, por causa da proximidade com a praça. Desde aquela época, viajava ao lado do meu pai e começava o aprendizado, pela observância de como agir nas viagens.

Começava a partir da compra das passagens na empresa de ônibus, conferência do número de assento, dia e horário da viagem. Quatro lugares. Meu pai e meu irmão a frente e nas poltronas atrás, minha mãe e eu. Entrega das bagagens com a devida etiqueta de embarque. Paradas nos pontos durante a viagem. Restaurantes e toaletes, já que na época os ônibus não possuíam W.C. a bordo. Chegadas no destino. Fila para os táxis, chegada aos hotéis, bagagens, gorjetas, passeios, compras, etc.

Fazia isso todos os anos. É óbvio que aprendia a cada viagem. Já com a idade adolescente começava os meus primeiros passos para tentar fazer tudo aquilo sozinho. Buscava na mente aquele aprendizado silencioso fruto da observância, como disse anteriormente.
Micaela (menor) em Pucón com a irmã Nadine,
vendo a neve pela primeira vez. (Arq. pessoal)
Passado este tempo, depois de casado, e com as filhas a tiracolo, começava eu a fazer aquele ritual de viagens com as duas na base da mesma observância.
Muitas viagens, desta vez não mais de ônibus. As viagens seriam para outros destinos mais longínquos e por essa razão, o meio de transporte passava de rodoviário para aéreo, o ônibus mudava para avião.
Aqui as irmãs bem adultas compartilhando o frio do
Central Park em New York, nos EUA. (Arq. pessoal)

Aquele mundo das rodoviárias passa agora para os aeroportos. O número de pessoas e o ambiente é outro. Os cuidados são outros. Documentos, passaportes, moeda estrangeira, cartões de créditos, bagagens bem maiores e protegidas. E segue o périplo. Mundos diferentes, comunicação através das várias línguas, hábitos e costumes desconhecidos, adversidades culturais, principalmente em países europeus.

Certa vez cheguei a ser confundido na imigração em Londres e em Munique pela polícia alfandegária. E lá estavam os olhos das filhas observando tudo. Nas dificuldades em cidades menores, com hotéis dirigidos por imigrantes, principalmente asiáticos. Passamos frio em Worms e Koblenz, Alemanha, por causa de não se entender com os chineses da recepção como manejar o aquecedor do quarto, por exemplo. Acabei esquecendo algumas roupas (meu pijama, por exemplo) em Sttutgart, também no país germânico.

E lá estava a minha filha mais velha, Nadine com os olhos atentos em tudo. Mais tarde na América do Sul, do Norte e Oceania, as coisas ficaram mais facilitadas. O inglês, língua universal é mais compreendida por ser nativa no continente americano. E o portunhol usado no Chile, Argentina, Peru, Bolívia. Assim se tornou tudo mais fácil. E o ensinamento que levou ao aprendizado, seguiu por décadas e dezenas de viagens. Rodamos o mundo. Estava feito o ciclo. Completava as informações por osmose. Do meu querido pai para mim, e de mim para as gurias.

Hoje, quando as vejo viajando sozinhas, noto que valeu a pena mostrar o exemplo que segui de meu pai e dar o mesmo exemplo a elas. E é assim a vida. Um eterno giro. Aprendemos a enfrentar as situações no aprendizado do dia-a-dia. Fazemos as coisas naturalmente.

E ainda tem a melhor das situações. Quer saber? É quando juntamos todas as nossas expertises, fazendo as viagens com todos juntos. Ai, então, é covardia.

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