quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Bons tempos. Recordações das mãos sujas de tintas e giz.

Erro Tipográfico

"A luta contra o erro tipográfico tem algo de homérico. Durante a revisão os erros se escondem, fazem-se positivamente invisíveis. 
Mas, assim que o livro sai, tornam-se visibilíssimos, verdadeiros sacis a nos botar a língua em todas as páginas. Trata-se de um mistério que a ciência ainda não conseguiu decifrar".(Monteiro Lobato)

Desde 1967, com apenas 16 anos de idade, cursando o primeiro ano do Científico (colegial), hoje conhecido como Ensino Médio. Me meti num negócio chamado "impressão gráfica", naquele tempo no extinto jornal diário, a Folha de Rio Preto. Depois de três anos, rumei para a cidade de S. Paulo. Terra das oportunidades.

A tipografia me fascinava. 

Era um bom aluno na matéria de História e sabia do momento divisor de águas que o alemão Gutemberg havia obtido, ao imprimir a Bíblia com tipos móveis, ou seja, inventava  a partir daquele trabalho, a tipografia. 
Mais tarde ao escolher a profissão de publicitário, sacramentava minha preferência na parte de criação e direção de arte, debrucei sobre a impressão gráfica.
Em 1970 ainda não tínhamos no Brasil a excelência em impressão, convivíamos com a modernidade com o sistema off-set, mas a tipografia ainda era utilizada em sua maioria. 
O cheiro daquela tinta era o meu vício do dia-a-dia, às vezes mãos sujas, que só saia com um chumaço de pano cheio de gasolina, outro cheiro peculiar de minha juventude.
Quantas capas de livros eu criei, perdi a conta. Trabalhei em várias editoras. E consequentemente vivia no mundo das oficinas gráficas. Fundei meu estúdio, Âmbar Produções, dentro de uma gráfica. Convivia diariamente com impressores, montadores, aparadores, mecânicos de guilhotinas e máquinas impressoras. Que saudades.

Ingressei na faculdade.

Apesar de fazer a faculdade, não abandonei o mundo gráfico, mesmo até montar uma agência com os colegas de classe e ganhar o mundo.
Criamos a agência de Propaganda denominada Canopus. Fomos além das expectativas, acabamos sendo incorporados pelas agências maiores e por ai seguimos.
Me tornei professor na área de Produção e segui explicando a magia do mundo da reprodução gráfica. Ao invés de sujar as mãos, impregnava com a cal do giz nas lousas da vida. Quantos alunos eu os deixei irritados com os assuntos que muitos não gostavam. Diziam que jamais fariam aquilo que eu lecionava, a tal produção gráfica. 
Queriam a glória do trabalho no charme dos escritórios ou no mundo da produção visual da televisão, a joia da coroa, os comerciais de TV. 

A importância de conhecer a origem.

Mal sabiam eles que deveriam saber o processo desde o início, tudo na vida é assim.
Para ser médico, primeiro se estuda de tudo, depois vem a especialização.

Formávamos primeiro, os generalistas, para depois virem os especialistas. E eu fui um produto dessa sequência. Desde os primórdios lá em Rio Preto.
Mais tarde, após deixar de lecionar, voltei a trabalhar numa associação que editava uma revista de grande porte. Pelos menos, no número de páginas, sempre superior a 200.
E lá com colegas jornalistas voltei a mexer com o mundo gráfico. Fizemos até impressão da revista SuperHiper no Chile, em Santiago.
Lembro-me ainda das revisões que o meu saudoso colega jornalista Abendnagno Borges fazia. Naquela época, pela revista ser enorme, contrataram mais um revisor, o Ornilo Costa, ainda nosso amigo, solto pela aí.


Abras em convenção de capacitação aos colaboradores. (1996)
Monteiro Lobato e a importância da leitura.

Hoje me encontrei com essa frase de Monteiro Lobato onde tece seu comentário sobre o 'erro tipográfico' e de repente vieram todas estas recordações do tempo em que fazíamos a revista da Abras. 
Figuras saudosas como o Joaquim, Abendnagno, Dorgeval, Truta, sr. Taufic, Sr. Valdemar, Luís Paulo. Dos colegas jornalistas, Zeka Videira, Luizinho, Valdo, Mauro, Ornilo, Sonia Salgueiro, Eliane, Suzana e muitos outros que passaram pela nossa redação.
Dos colegas da produção gráfica e montagem, Silvério, Ciça e Danilo. Dos chefes Fernando Di Primo e Rafael Varela. Dos colaboradores das editorias, profissionais competentes de outras áreas como Vanda, Sonia Leme e Olegário. Também dos colaboradores free lancers na fotografia como Gil Rennó, Munir Ahmed e Sérgio Cardoso. Dos fornecedores de material gráfico Vladimir, Wagner, Lúcio dentre muitos outros que também sujaram as mãos de tinta. 
Hoje, por me lembrar de todos vocês, o meu dia foi maravilhoso. Emocionante. 
Obrigado por terem passado em minha jornada da vida. 
Beijos para os que estão do lado de lá e igualmente aos daqui.

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