quarta-feira, 19 de março de 2014

O dia em que Deus esteve na festa da Gapnet.


Fulano, beltrano e sicrano. Gente anônima que faz a Gapnet.
Se existe alguém que é a cara da Gapnet, essa pessoa é encarnada na figura do seo Flor. O nosso Floriano.
Faxineiro há quase 19 anos. Aliás ele tem dois empregos. Durante o dia, ascensorista no edifício da Barão de Itapetininga, onde a Gapnet foi fundada em 1995 e lá permaneceu por quatro anos. E à tardinha, vem para Gapnet e faz a faxina nos andares onde estamos instalados. E era apenas um andar em 2001. Ai foi, aumentando para o 9o., para o 11o., depois desceu para o 10.o,  mas o seu ânimo e dedicação nunca esmoreceram. Homem de fibra, apesar de ser magrinho, franzino como todo imigrante nordestino. 
O Floriano já era nosso conhecido do antigo endereço, Praça D. José Gaspar, 30, onde trabalhei com o Rui Alves, na Holiday Tours, também era ascensorista. Pessoa simples, calma, serena, os adjetivos podem ser lembrados na totalidade, mas resumindo, o verdadeiro ser humano. Dedicado, amigo e parceiro. Se houvesse uma música para os homens, como fizeram a Amélia para as mulheres, o nome da música seria Floriano. Este sim é um homem de verdade.
Por participar da vida anônima da Gapnet, muitos não sabem ou conhecem o seo Flor. Só nós, da antiga velha guarda. Ele nunca deixou de participar das festas da Gapnet. Em todas as comemorações de aniversário (04 de julho) e nas festas de confraternização de final de ano. Em todas as ocasiões, ficava a um único pedido do seo Flor. Vinho! Nunca bebeu outra coisa. Dançar forró então? Lá ia o Flor dançando quer no salão, quer na marquise, quer em restaurante, dentro ou fora das dependências da Gapnet.
O nosso pé de valsa estava lá pegando as gurias e as coroas. Um cara participante e que não falhava. Dai sua origem nordestina. Cabra arretado.
Do Flor só tenho boas recordações, mas um fato me marcou para sempre. Foi numa destas festas de confraternização da Gapnet. Na época que acostumávamos em premiar os nossos colaboradores. E sorteávamos Eurekas para todos que participavam do evento. Lá estava eu como mestre de cerimônias, comandando o sorteio e bradava o número, como um condutor de um bingo de quermesse. Gritava o número ao microfone e repetia até o premiado aparecer. Neste dia, não sei por que razão, antes da cerimônia de abertura e dos avisos paroquiais (meu speech aos colaboradores), rezamos todos juntos, de mãos dadas, o Pai Nosso. Seguindo a programação e nos primeiros sorteios algumas pessoas, nossos funcionários mais simples sendo sorteados. E lá pelas tantas, digo que a noite é especial, pois Deus estava lá fazendo justiça, pois os premiados eram pessoas humildes que estavam ganhando as Eurekas.

Vem os maiores prêmios da noite. Chamo ao púlpito os colaboradores mais queridos para sortearem os papéis com números e informá-los ao microfone. Na sequência, da. Célia para o 3o. maior prêmio. Número tal, vem fulano. Chamo a da. Odete para o 2o. maior. Número tal e vem beltrano receber. 
Paro e chamo o sr. Floriano para sortear o último e maior prêmio da noite. Fazemos suspense. Mão na urna. Sorteia-se e lê-se o número 464. Pausa... ninguém grita. Eu me socorro na lista geral e vejo o número e a quem corresponde. Na linha do número 464, nome Floriano. Silêncio. Fico embasbacado e falo baixinho escondendo o microfone, me dirigindo ao Flor. – É você o sorteado! Ele não acredita. 
Eu fico sem voz. Mas busco força e digo. – Gente, esta noite eu vi mais uma prova que Deus existe e Ele esteve aqui. Estufo os pulmões e grito: – O premiado é o seo Flor.
O salão do Circolo veio abaixo. Nunca senti a presença de tanta emoção e energia num só local. Esse momento jamais me esquecerei.

Não o temos mais anônimo como fulano, beltrano e sicrano. Obrigado por existir e estar conosco com toda a sua jovialidade, Floriano. 
Você é uma daquelas pessoas que constrói tijolo por tijolo a imagem da dignidade humana e faz com que a gente tenha vontade de acreditar: vale a pena ser humilde, vale a pena ser do bem. 
Um beijo e abraço, meu amigo.

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